NOS AÇORES
A necessidade de criar “Os Impérios
do Divino Espírito Santo” nos Açores surgiu depois que ocorreu
ali um terramoto de grande intensidade, causando grande número de
vítimas, destruindo património e assustando atrozmente a população.
Havia ainda poucos anos que as ilhas
tinham sido povoadas e a população não conhecia estas
particularidades ambientais.
Os Impérios do Divino Espírito Santo
são associações que, em caso de calamidade, prestam socorros
urgentes à população, cuidando dos mais carecidos e constituídos
em necessidade.
Os Impérios, já eram conhecidos pelo
Alentejo: Portalegre, Marvão, Nisa. E no Século XVI já eram
referenciados em Alenquer.
Estas associações de há muito
seriam conhecidas pelos Açores, embora não tivesse havido ocasião
para realizações práticas.
Depois que em 1.522 um novo e grave
acidente lançou os Açores na senda dos Impérios.
Os açorianos tem sofrido com
frequência calamidades de várias origens como vulcanismo; temporais
quer em terra, quer pela fúria do mar.
Há temporais com descargas de água
que provocam enxurradas, derrocadas e deslocação de terras ou que
levam à sua frente tudo quanto se opõe.
Foi o caso de Ribeira Quente em
30/10/1998, quando à Ribeira foram parar as águas de pequenos
riachos subsidiários que carrearam terras movediças, troncos e
pedregulhos em quantidade.
Antes de entrar no mar, a Ribeira
encontrou pela frente uma escola e a aldeia de pescadores e tudo foi
levado. Escaparam apenas algumas casas afastadas.
Houve «vinte e nove vítimas
mortais», grande número de feridos nas casas e outros prejuízos
materiais.
Dessa vez Os Impérios do Divino
Espírito Santo deram provas e os bons resultados da experiência
açoriana levou a que os Impérios se estendessem mais cedo ao
Brasil, aos Estados Unidos ao Canadá.
Cada Império ocupa sua área
definida; Seja freguesia, lugar ou simples rua.
Os Irmãos fazem uma cotização anual
para o “cofre do império”. Além das cotizações o “Imperador”
promove festividades para angariação de valores e para fidelização
dos associados, procura amealhar, para distribuir, por todos os
recursos possíveis.
Nos Impérios o Sagrado impõe-se! E a
intenção pensada e face à calamidade, transforma-se em “lei” e
a realização de Lei pode impor-se pela dor alheia patente aos
olhos. O “Projecto” derrama em sacrifícios por todos
participado; passando pelo voluntariado pode ir até ao esforço
pessoal e ao sacrifício abnegado.
O Império «oferece um chefe
ponderado e escolhido por todos»; um elemento precioso e que dispõe
de autoridade e de um pecúlio, que é de todos e que pode usar nos
primeiros socorros.
O conhecimento vivido destas situações
críticas faz com que as Festas do Divino Espírito Santo se
revistam de atenções muito peculiares nos dos Açores
disseminando-se, com a diáspora açoreana por todo o mundo.
Só na Ilha de São Miguel há mais de
trinta Impérios.
O tempo litúrgico do Divino Espírito
Santo tem início no Domingo de Pascoela e termina no dia da SS.ma
Trindade. Nos Açores “as festas dos Impérios”, freguesia, após
freguesia, continuam por todo o Verão.
As festividades dos Impérios possuem
actividades, rituais próprios e dias reservados. Alguns Impérios
promovem arraiais e diversões variadas como os famosos “touros à
corda”.
Uma parte importante da actividade dos
Império é a distribuição de alimentos aos associados no dia da
festa do Império da Terra. Distribuição de “carne da alcatra”
em espécie ou cozinhada e distribuída num imenso banquete ao ar
livre a todos os Irmãos.
Visitei um Império que distribuía a
carne de meia dúzia de “vacas” que comprava e mandava abater
expressamente para oferecer aos Irmãos. A sede do Império dispunha
de instalações de açougue espaçosas, funcionais e higiénicas
para desmanchar as carcaças. São instalações construídas, à
semelhança, sem tirar nem por, dos nossos talhos.
Nas instalações há, por vezes uma
cozinha com grande lareira e panelões para cozinhar a alcatra. A um
lado da cozinha fica a masseira, o forno e a mesa onde batem o
célebre “pão sovado” - semelhante às fogaças da Vila da Feira
- que cozem num enorme forno para distribuir à refeição. Outros
impérios entregam no sábado anterior as vitualhas para que os
Irmãos as levem e preparem em casa.
O modo como organizam os Impérios é
sábio, pois procuram servir-se de tudo quanto enriqueça a festa
onde as manifestações religiosas completam as profanas.
Se as generalidades são quase comuns
a todos os Impérios, há autonomia absoluta em questão de
pormenores, na prática divergem ao gosto do Império ou de
conveniências próprias.
Os Impérios são instituições
autónomas e de utilidade para quem esteja carecido vocacionadas para
casos de calamidade.
Foram criados com a intenção de
“abrir o Império” a todos quantos tenham necessidade de seus
préstimos na calamidade, sem olhar se são ou não Irmãos;
independentemente do Credo, da cor, da origem, ou qualquer outro
impedimento.
Os Impérios dos Açores são a
maravilha da vida comunitária que, nestes tempos de egoísmo, em que
vivemos mostra que o Espírito de caridade, ainda vive e está para
durar..
m.c. santos leite
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