quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Vida de Santo António

«Santo António era orador de raça!»

Formação e actividades
Que influenciaram a vida de Santo António.

a) - A religiosidade exemplar da família;
b) - Ter assimilado a fama de Sant`Antão, como “advogado” da saúde dos animais domésticos:
c) - A animação que os exércitos, que todos os anos se movimentavam partindo ou chegando da reconquista ou do ultramar, que a todos galvanizava, e muita vida e alegria davam à cidade de Lisboa;
d) - A disciplina rigorosa e os conhecimentos obtidos nos Mosteiros de “São Vicente de Fora” e de “Santa Cruz de Coimbra”. concorreram para o grande êxito que obteve.
e) - Os êxitos da “família de Assis” que, depois de “Forlívio”, manifestara muito génio e saber.
f) - Em Coimbra, nos estudos do Mosteiro de Santa Cruz, Frei António dispunha de biblioteca e de bons professores. Todos os professores do Mosteiro eram formados nos “estudos de Paris”;
g) - As ideias próprias usadas por Santo Agostinho deixam-se notar facilmente em Santa Cruz; de Coimbra, sobretudo na liturgia e particularmente na “A Cidade de Deus” que era a fonte de inspiração predilecta.
h) - O Povo atribuiu-lhe “a fama de Santo das coisas perdidas”.
i) - Foi decisiva a resolução de evangelizar em Marrocos. Como decisivo foi o temporal que o encaminhara para Sicília; levando-o ao encontro de “São Francisco”.
Ambas as ocorrências, “desviando-o do ambiente natal”, levaram a um ambiente monástico que lhe permitiu total realização pessoal, o que na Pátria, não seria possível.
Mais uma vez foi provada a regra que diz que: “Os Santos da terra não fazem milagres!”
j) - Foi ele o percursor que levou a “abrir o mar aos caminhos das caravelas lusitanas”, que ao longe levaram o benefício e a riqueza da civilização cristã!

Os Santos Populares
e as cascatas
A tradição manda á gente miúda que, no mês de Junho, quando ocorrem as “festas dos Santos Populares” preparem cascatas em que, a frescura dos ramalhos novos das carvalheiras, aviva a tradição em cada ano.
Santo António é o primeiro dos Santos Populares.
Manda a tradição que no dia 12 de Junho, dia da véspera, ao entardecer, estejam prontas as cascatas e demais aprestos para a noitada.
Os rapazes, “tradicionais construtores de cascatas”, atentos a quem passa, logo vêem pedir “uma moedinha para Santo António”.
A vida da aldeia ou do bairro, com a chegada dos dias dos “Santos Populares” altera-se e
muitas ruas aparecem engalanadas com bandeiras e enfeites de cores garridas. Cedo se ouve a música festiva dos altifalantes que “afinam” para a noitada.
Balões com lâmpadas coloridas, dependuradas por árvores e cordéis, iluminam e dão ambiente festivo ao largo da aldeia, ou do bairro. Balões de ar quente sobem pelo ar e são, pelo vento levados para longe.


Já se ouvem foguetes e fogos de artifício de jardim. A sardinha assada liberta característico cheiro que invade o largo.
Em cada ano escrevem-se novas poesias populares alusivas aos Santos, que dão origem a animadas marchas e rusgas.
O ambiente e a música convidam “a sair à rua”; Chamam para o bailarico.
Aparecem os aromas delicados como o dos ramalhos das cascatas, o manjerico, a cidreira e tantos outros aromas agradáveis e que surgem na época.
Pelos guarda-vestidos já se retiram roupas de caris popular para tudo se aprontar para a noitada e para a dança.


São Francisco fundara a Ordem no domínio de alegres esperanças, na caridade, na pobreza e na penitência. Santo António seguiu-lhe a esteira e impulsionou os ideais de São Francisco.
Particularmente os mais novos estão atentos e em cada ano reage de modo diferente mostrando a alegria que lhe vai e que os Santos Populares fazem extravasar.

Santo casamenteiro
As raparigas solteiras mendigam de Sant´António milagres próprios de Santo casamenteiro.

Dizemos “Santo António de Lisboa, porque
nasceu em Lisboa em 15 de Agosto de 1195
e, lá dera os primeiros passos:

Santo António de Pádua” por ali ter falecido
em 13 de Junho de 1.231 e lá ter apresentado
ao Criador o corolário da vida.

                                                                                  

Lisboa para Coimbra, Marrocos e Assis

 


Santo António” foi um dos grandes homens da Igreja de todos os tempos e é o Santo que os portugueses mais veneram.
Foi baptizado de Fernando, mais tarde mudaria o nome para António.
Fernando Martins de Bulhões nasceu numa casa em frente à Sé de Lisboa, onde hoje encontramos uma Igreja com o seu nome; Reinava em Portugal de D. Sancho I.
Em 1934 foi declarado Padroeiro de Portugal.
A mãe seria descendente de “Fruela” rei das Astúrias; o pai julga-se provir de cavaleiros Celtas.
Atribui-se o gosto pelas coisas da religião, á proximidade da residência dos pais com a Sé, onde Fernando desde pequeno passaria muito tempo. Pela Sé observava pormenores do culto; Encantavam-no a liturgia, os altares, paramentos, coros e a música e as cerimónias, que acabariam por influenciar e decidir o futuro do moço. Fernando cedo e de livre vontade, começou a praticar austeridade e jejuns.
Foi aluno das escolas da Sé até aos 15 anos, e aí aprendera gramática, oratória, música, aritmética e astronomia. Depois passou dois anos como “ingresso” em “São Vicente de Fora”.
Como se sabe, próximo da Sé de Lisboa, do lado nascente e muito perto, fica o convento de “S. Vicente de Fora” dos «Cónegos Regrantes de Santo Agostinho», onde Fernando de Bolhões, muito novo, fora pedir que o aceitassem como noviço.
O pai teria falecido por essa altura.
Esteve em São Vicente, como ingresso, onde parece ter cumprido breve noviciado que mais lhe acicatara o interesse pela religiosidade. Passados dois anos, mudou-se para “Santa Cruz de Coimbra”. Mas, “Santa Cruz” também não lhe preenchia os objectivos nem lhe ultrapassava a saturação.

Sempre muito aplicado e cumpridor das regras e hábitos da Casa, iniciou vasta formação bíblica e religiosa que o fariam notado.
A Ordem de S. Domingos, já não era da sua índole nem aceitava seu modo de vida. Eles… «Esfiapavam a roupa a subir ao trono!» Dizia-se.
Frei Fernando que, depois de 1218 ou 1220, teria vinte anos, já tinha sido ordenado presbítero. Era já pregador notável e muito dedicado à pobreza e à simplicidade.
Um dia a novidade correra pela cidade. “Cinco Irmãos de São Francisco”, que tinham tido o atrevimento de levar a Fé dos cristãos aos infiéis, logo os marroquinos lhes separaram as cabeças dos corpos, devolvendo as relíquias à procedência… para exemplo!
Certo dia chegaram a Santa Cruz as relíquias dos “Santos Mártires”.
Ao aperceber-se daquilo que se tinha passado com os «cinco Irmãos Mártires do Mosteiro dos Olivais» frei Fernando entendeu que já era tempo de mostrar suas valias.
A vida cómoda e opulenta do mosteiro de Santa Cruz já não satisfazia frei Fernando
Uma noite S. Francisco aparecera-lhe em sonhos e Frei Fernando, que se transferira para os “franciscanos dos Olivais”, não descansou sem que partisse para a África a evangelizar, a combater o Islão… a “oferecer-se” por Cristo.
Pequena diferença lhe faria morrer por cá ou morrer em África. Frei Fernando foi em frente!
Um dia os frades mendicantes voltaram a Santa Cruz e frei Fernando falou-lhes da sua situação mas, na manhã seguinte já tinha ingressado nos «franciscanos dos Olivais».
Mas tanto a família como os frades de Santa Cruz mostraram-se desgostosos e contrários á transferência.
Então, frei Fernando numa tentativa de conciliação aceitou mudar o nome para António.
O nosso Frei Fernando de Bolhões, quando trocara as “camisas brancas de linho fino” pela “estamenha” da gente de trabalho, passou a sentir-se no seu ambiente!
Chamavam-lhe «Frei António.»
MARROCOS
Frei António foi também a Marrocos em Missão de apostolado perante os muçulmanos mas adoecera. E a doença obrigara-o a regressar. Meteram-no numa barca a caminho da Pátria.
Frei António na barca, quando pensava no modo “como tinha sido tratado pelos mouros” a quem tinha “prometido evangelizar”, sentia-se no dever de lhes ser agradecido e pensava:
«- Teriam os portugueses dado tão bom acolhimento a um “Mouro” que ficasse preso, por doença… em terras de Portugal?»


De regresso a barca, colhida por forte temporal foi levada a entrar pelo Mediterrâneo, acabando por encalhar na Sicília.
Próximo à praia havia um pequeno mosteiro franciscano que o recolheu e falaram-lhe no Capítulo que os franciscanos realizariam dentro em breve em Assis.
«- São Francisco já não está longe! Pensou!»
São Francisco iria abrir o «Capítulo Geral Franciscano», na Igreja de Santa Maria dos Anjos. Isso levou-o a dirigir-se a Assis, onde no dia 23/05/1221 assistiu á abertura do Capítulo e Frei António foi o pregador. Decorria a Primavera de 1221.
Frei António, sem perda de tempo partiu ao encontro de Francisco. «Bordão na mão, borrachinha da água à cintura… lá vai» Itália fora, para Assis, onde se realizaria o Capitulo.
Ao deparar-se-lhe Francisco; António deixou-se imobilizar de pasmo!
A ascese moldara o corpo de Francisco… magro e macilento.
Mas, o carisma de “Il Poverelo” sentia-se à superfície da pele: O Espírito fazia com que a graça transparecesse!
Os noviços por aqueles dias tomariam ordens, e São Francisco estaria lá com eles; Seria frei António o Pregador, iria insuflar nos noviços as chamas da divina Fé, mas o Pregador, do capítulo, em Maio de 1221 era ainda pouco mais que um imigrante, um vencido!
Fora o divino Espírito Santo quem escolhera frei António para falar. Mas ele era dotado de faculdades de excepção!
Em Assis, no auditório, iriam sentar-se o bispo ou bispos, o ministro provincial, os teólogos, ordinandos e outros frades.
Era gente nada fácil de contentar!
O desconhecido frade português; O derrotado de Marrocos; O náufrago da Sicília, da naufragada barcaça…
«- Nomeado para falar numa importante ordenação de frades franciscanos e dominicanos?


Isso causava risos aos concorrentes mas… Ao findar a prática gritaram todos em conjunto:
«- Ninguém jamais falou assim!»


Tão bem se desenvencilhou da grave missão que daí por diante passou a ser o ministro encarregado de executar as tarefas mais difíceis da Ordem.
Frei António seria mais tarde nomeado «Doutor Eclesiástico» ou «Leitor» e ensinou nos conventos de Bolonha, Mompelier e Tolosa.
Entre 1228 e 1230 esteve na Corte Pontifícia em negócios graves da Ordem.
O seu sermão estava tão recheado de subtilezas bíblicas que os opositores erráticos, na sua presença, ficavam mudos… incapazes de abrir a boca.

 

Frei António, Santo Franciscano. 

 


Um dia, em Rimini frei António preparava-se para pregar mas o Povo não lhe prestava atenção e conservava-se afastado. O Santo, esquecendo o alheamento foi pregar aos peixes do Adriático.
Estranharam a atitude de frei António e foram ver como decorria o sermão…
Para seu espanto viram cardumes de peixes que se aproximaram com a cabeça fora de água. Vinham ouvir a Palavra de Deus, pregada pelo Santo.
A lenda diz que várias conversões ocorreram nesse dia.
Por isso lhe chamavam a frei António:

«Incansável camartelo de hereges».
Como “pregador apostólico” moldavam-lhe a Alma dois pensamentos… Dois pólos contrastantes: Deus e o Mundo; O Homem e a Alma; Criador e Criatura e eram muitas as vezes em que se inspirava no “Amor”.
O seu trabalho apostólico é um poema vivo de dedicação ao próximo e ao Amor!
Era incansável pregador! Um dia ofereceu-se para pregar cada um dos quarenta dias da Quaresma. Como orador:
«- Nenhum outro orador alcançaria Santo António.»
A palavra eloquente entusiasmava os ouvintes a tal ponto que o assaltavam para lhe arrancar pedaços do hábito, para levar como relíquia.
«Toda a palavra escrita é letra morta.
Para que viva é forçoso que seja lida.»
Diziam no seu meio.
A influência de Santo António era tão grande sobre os pregadores que, muito mais tarde até Padre António Vieira seguira de perto os seus sermões.
Frei António tinha forte poder de eloquência. Era orador de raça!
Porque um homem a sós, na vida particular, não pode
saber se é ou não dotado de génio fecundo.


Mas ninguém, nem mesmo António “podia ter notícia de tal raça”, nem sequer suspeitar dos seus talentos magníficos.
Até 1.221 os talentos ainda estavam adormecidos! Era só silêncio, modéstia e humildade!
Ninguém lhe reconhecia o valor!
Nem ele nem nós podíamos saber se era ou não dotado de génio fecundo.
Revelou-se quando chegou a hora!
Quando chegou a ocasião e lhe deram a palavra pois… até aí…
«- Ele mesmo tinha necessidade de se ocultar.»
Pregou em Pádua e pelos arredores, passando menos de dez anos pelo estrangeiro.
Faleceu em Pádua em 13 de Junho de 1.231. À sua morte apresentava fisionomia de predestinado.
Técnicas modernas fixaram a sua morte nos quarenta anos de idade; as indicações habituais lhe atrbuíam apenas trinta e seis anos de vida.
Mal o Santo expirou logo as crianças de Pádua correram pelas ruas dizendo:
«- Morreu Santo António! Morreu o Santo!
Não lhe faltava nem prestígio nem santidade.
Para os franciscanos foi Mestre só ultrapassado por São Francisco de Assis.
Consumido do trabalho e sem forças, faleceu de doença súbita, no dia 13.06.1231, em Arcela, quando o levavam para Pádua.


Os paduános levantaram-lhe uma basílica, onde repousa.
Gregório IX canonizou-o em 30.05.1233.
Santo António é «taumaturgo» de todo o mundo. O Papa Pio XII, a 16.01.1946, fê-lo «Doutor da Igreja».
No final da vida pronunciou um juízo tão patético como iluminado sobre a cidade que lhe serviu de albergue:
«- Ó Pádua! Bendita sejas! És bela e rica nas tuas pradarias. O Céu prepara-te porém, neste momento, glória mais bela e rica que todas as outras.»
Foi rapidamente canonizado devido à sua popularidade e ao número de milagres que o Povo lhe atribuía.
Hoje continua a ser muito invocado como “Santo das coisas perdidas”. O Menino Jesus aparecia-lhe! O Santo ressuscitava os mortos!
Velava pela felicidade dos casamentos. 

Frei António, Santo e Militar

 


“Advogado” da Saúde
dos animais domésticos
A devoção a Santo António tem quase oitocentos anos. Mas, chamar-lhe “advogado” da saúde dos animais domésticos” deriva, em grande parte de ter assimilado o prestígio de «Santo Antão».
Como foi dito, o Povo português, como “muitos outros Povos”, em tempos recuados recorria sempre que havia algum animal doméstico doente a…

Sant´antão abade
«Santo Antão nasceu pelos anos de 250 ou 251 d.C. de família abastada.
Certo dia ouviu ler o versículo 1- 34 de São Lucas, onde se diz:
- Se queres ser perfeito…
Mais tarde ouviu ler (São Mateus VI, 34),
- Não tomeis cuidado com o dia de amanhã!
Santo Antão viveu num castelo nas margens do rio Nilo.»


O hábito de recorrer a Santo Antão foi transferido para Santo António pelo Povo, talvez se assemelharem os nomes, isso fez de Santo António, “advogado da saúde dos animais domésticos” e “Santo de todo o mundo”.
Na catedral de Segóvia um enorme altar lembra Santo António aos fiéis.
Quase todas as Igrejas e Capelas portuguesas tem o seu altar, ou nicho com a imagem do “advogado da saúde dos animais domésticos” e mais sensível será a devoção pelos arredores de cidades ou regiões ligadas à criação de gado.
Muitas terras portuguesas conservam práticas antigas em que os animais, em certos dias do “Santo” e dias festivos, são levados às capelinhas que lhe são dedicadas, para cumprimento de promessas, que muitas vezes incluem “umas tantas voltas ao templo”.
Certo é que um dia, passando por Ceuta, o cicerone árabe com todo o respeito, indicou:
«- É ali a capelinha de Santo António!»
Estava eu longe de pensar que os Mouros levantassem uma capela dedicada a um santo cristão na sua terra… embora Ceuta, desde há muitos anos, seja terra de cristãos.
Santo António sabendo “ser agradecido” aos marroquinos, que o teriam tratado bem, continua a ser lembrado por eles.
Santo António
Na Toponímia
A toponímia de Santo António é muitíssimo rica!
Denomina muitas e grandes povoações. Dá nome e é Padroeiro de muitíssimas freguesias Arruamentos, praças, por todo o Mundo recordam o nome do grande Santo.
Santo António nas Artes

Na Pintura, Arquitectura, na Escultura e na Música, Santo António está muitíssimo bem representado.
Santo António Santo e Militar
Santo António goza de uma particularidade única; foi incorporado em muitas unidades militares.
Noutros tempos, foi-lhe dada a honra de ser incorporado em vários regimentos portugueses, brasileiros e outros, como Oficial.
Com o tempo foram-lhe atribuídas novas e mais elevadas graduações e mais elevados vencimentos.
A incorporação do Santo no regimento representava meio de agradecer, da parte do Exército e da Pátria, favores recebidos por sua intercepção.

Artigo elaborado com frequentes recursos às Obras:

«Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira»
«Enciclopédia VERBO»
«Santos de Todos os Dias»
Da Editorial A. O. – Braga
A “Wikipédia” também oferece abundante matéria sobre Santo António.