quarta-feira, 22 de outubro de 2014

DAS “GUILDAS” ÁS MISERICÓRDIAS


D. Leonor e Frei Contreiras, quando fundaram a Misericórdia de Lisboa criaram uma misericórdia diferente daquelas que até aí existiam.
Segundo os enciclopedistas as Misericórdias sendo muito antigas, foram precedidas pelas “guildas”.
As “guildas” disseminaram-se por todo o “Mundo conhecido, acompanhando actividades comerciais, ou agrícolas, sob a forma de mutualismo ou de “seguro”. Os interessados pagavam um prémio de seguro e em casa de acidente eram indemnizados de acordo com o contratado.

Cobriam prejuízos de incêndio, naufrágio, catástrofes naturais, etc.
Hoje já não ouvimos falar em “guildas” mas permanecem as “mútuas”, que geralmente, entre lavradores, cobrem riscos, com animais.

As “misericórdias” sentiram mais vocacionadas pela ajuda aos “habitantes das cidades”; orgulhoso, avesso ao trabalho, viciado, por fim, idoso, enfermo e esquecido. Então inscrevia-se numa associação mutualista, pagava o prémio e tinha o subsídio de reforma esperado.

Já Cícero (106 a 43 a.C.) dissera de César que «a “misericórdia” era a sua mais admirável virtude!» *)
Parece entender-se daqui que César, movido por sentimentos filantrópicos fazia distribuir auxílio na doença, na viuvez e velhice, dos servidores; e responsabilizava-se pelo amparo de viúvas e de órfãos.

No tempo da rainha D. Leonor e Frei Contreiras, as ruas de Lisboa eram percorridas por necessitados a quem tudo faltava; desde cuidados de saúde a de prestações alimentares ao tugúrio onde se pudessem abrigar.
As primeiras idades sofriam carências totais que iam até ao abandono de Bé-Bés, “na roda”.

A admissão de um Irmão ainda hoje implica um juramento, conhecido por “compromisso”, que seria elaborado pelos conhecimentos de Frei Contreras e tutelado pela sensibilidade da rainha; daí que o Estatuto das Misericórdias ficasse conhecido por “Compromisso”.
A instituição em pouco tempo disseminou-se por todo o Reino e pelo «Além-Mar” por onde continua a servir, com prontidão, os mais ”carenciados”.

O “Irmão Benfeitor” e o “Irmão Obreiro” servem a “Misericórdia” com benfeitorias e benévola prestação dos trabalhos que lhe são recomendados.

O “carenciado” apelando às «Obras Corporais», recorre à protecção da “Bandeira da Misericórdia” e logo sente conforto, protecção e esperança.

E o Povo, a que pertencem humildes Beneméritos, Obreiros e Beneficiários, como seu sexto sentido, tudo intui e consegue interpretar os meandros das carências humanas, ajuda a acudir prontamente, aos necessitados!
«Costuma dizer-se que as Misericórdias não fazem milagres mas… já pouco lhes falta!»
Apercebemo-nos, da dedicação, dos “Irmãos”, Benfeitores” ou “Obreiros”, acodem prontamente; dão o que têm ou o que não podem porque esperam retribuição abundante da “Fonte” das Misericórdias.

As “Bandeiras das Misericórdias” “vêm passar os séculos”, ondulando ao vento silenciosa e discretamente.
A sua sombra continua a proteger multidões de “carenciados”; humildes Obreiros e Beneméritos que lutam “discretas batalhas de Paz”, cada dia mais vastas e mais longas que as débeis e velhas forças.

m. c. santos leite

OS IMPÉRIOS DO DIVINO ESPÍRITO SANTO


NOS AÇORES

A necessidade de criar “Os Impérios do Divino Espírito Santo” nos Açores surgiu depois que ocorreu ali um terramoto de grande intensidade, causando grande número de vítimas, destruindo património e assustando atrozmente a população.
Havia ainda poucos anos que as ilhas tinham sido povoadas e a população não conhecia estas particularidades ambientais.

Os Impérios do Divino Espírito Santo são associações que, em caso de calamidade, prestam socorros urgentes à população, cuidando dos mais carecidos e constituídos em necessidade.
Os Impérios, já eram conhecidos pelo Alentejo: Portalegre, Marvão, Nisa. E no Século XVI já eram referenciados em Alenquer.
Estas associações de há muito seriam conhecidas pelos Açores, embora não tivesse havido ocasião para realizações práticas.
Depois que em 1.522 um novo e grave acidente lançou os Açores na senda dos Impérios.
Os açorianos tem sofrido com frequência calamidades de várias origens como vulcanismo; temporais quer em terra, quer pela fúria do mar.


Há temporais com descargas de água que provocam enxurradas, derrocadas e deslocação de terras ou que levam à sua frente tudo quanto se opõe.
Foi o caso de Ribeira Quente em 30/10/1998, quando à Ribeira foram parar as águas de pequenos riachos subsidiários que carrearam terras movediças, troncos e pedregulhos em quantidade.
Antes de entrar no mar, a Ribeira encontrou pela frente uma escola e a aldeia de pescadores e tudo foi levado. Escaparam apenas algumas casas afastadas.
Houve «vinte e nove vítimas mortais», grande número de feridos nas casas e outros prejuízos materiais.
Dessa vez Os Impérios do Divino Espírito Santo deram provas e os bons resultados da experiência açoriana levou a que os Impérios se estendessem mais cedo ao Brasil, aos Estados Unidos ao Canadá.
Cada Império ocupa sua área definida; Seja freguesia, lugar ou simples rua.
Os Irmãos fazem uma cotização anual para o “cofre do império”. Além das cotizações o “Imperador” promove festividades para angariação de valores e para fidelização dos associados, procura amealhar, para distribuir, por todos os recursos possíveis.
Nos Impérios o Sagrado impõe-se! E a intenção pensada e face à calamidade, transforma-se em “lei” e a realização de Lei pode impor-se pela dor alheia patente aos olhos. O “Projecto” derrama em sacrifícios por todos participado; passando pelo voluntariado pode ir até ao esforço pessoal e ao sacrifício abnegado.
O Império «oferece um chefe ponderado e escolhido por todos»; um elemento precioso e que dispõe de autoridade e de um pecúlio, que é de todos e que pode usar nos primeiros socorros.

O conhecimento vivido destas situações críticas faz com que as Festas do Divino Espírito Santo se revistam de atenções muito peculiares nos dos Açores disseminando-se, com a diáspora açoreana por todo o mundo.
Só na Ilha de São Miguel há mais de trinta Impérios.

O tempo litúrgico do Divino Espírito Santo tem início no Domingo de Pascoela e termina no dia da SS.ma Trindade. Nos Açores “as festas dos Impérios”, freguesia, após freguesia, continuam por todo o Verão.

As festividades dos Impérios possuem actividades, rituais próprios e dias reservados. Alguns Impérios promovem arraiais e diversões variadas como os famosos “touros à corda”.


Uma parte importante da actividade dos Império é a distribuição de alimentos aos associados no dia da festa do Império da Terra. Distribuição de “carne da alcatra” em espécie ou cozinhada e distribuída num imenso banquete ao ar livre a todos os Irmãos.

Visitei um Império que distribuía a carne de meia dúzia de “vacas” que comprava e mandava abater expressamente para oferecer aos Irmãos. A sede do Império dispunha de instalações de açougue espaçosas, funcionais e higiénicas para desmanchar as carcaças. São instalações construídas, à semelhança, sem tirar nem por, dos nossos talhos.
Nas instalações há, por vezes uma cozinha com grande lareira e panelões para cozinhar a alcatra. A um lado da cozinha fica a masseira, o forno e a mesa onde batem o célebre “pão sovado” - semelhante às fogaças da Vila da Feira - que cozem num enorme forno para distribuir à refeição. Outros impérios entregam no sábado anterior as vitualhas para que os Irmãos as levem e preparem em casa.

O modo como organizam os Impérios é sábio, pois procuram servir-se de tudo quanto enriqueça a festa onde as manifestações religiosas completam as profanas. 


Se as generalidades são quase comuns a todos os Impérios, há autonomia absoluta em questão de pormenores, na prática divergem ao gosto do Império ou de conveniências próprias.

Os Impérios são instituições autónomas e de utilidade para quem esteja carecido vocacionadas para casos de calamidade.
Foram criados com a intenção de “abrir o Império” a todos quantos tenham necessidade de seus préstimos na calamidade, sem olhar se são ou não Irmãos; independentemente do Credo, da cor, da origem, ou qualquer outro impedimento.

Os Impérios dos Açores são a maravilha da vida comunitária que, nestes tempos de egoísmo, em que vivemos mostra que o Espírito de caridade, ainda vive e está para durar..


m.c. santos leite

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Quo vadis Domine


Quo vadis? Domine? É o felicíssimo título do livro de «Henrique Sienkiewicz»
que percorrera mundo, com inteiro agrado para aqueles que tiveram a felicidade de o ler. Hoje já devia ter regressado aos escaparates das livrarias, atendendo ao atualidade do contexto político mundial e às préclaras orientações do Santo Papa Francisco, quando esta maravilha, que é a História.

A História não pára de nos surpreender!
Pedro, foge de Roma onde fora largamente perseguido e contraditado por governantes e Romanos e pelos governados e já ia na “Via Ápia” quando vê ao longe alguém que vem em sua direcção de ”Cruz às costas”!
Pedro, que já tinha Roma como terra “impossível para viver, confronta-se já com a ideia que o culpabiliza:
«- Eu fujo da insuportável Roma!», enquanto o Mestre, vai em sua direcção!
- Eu procuro afastar-me! Jesus vai para Roma!

E não consegue evitar a célebre pergunta:
«- Domine! Quo vadis?»
«- Abandonaste-a, pensou Pedro! Jesus vai ocupar o teu lugar.

Quo vadis?», é tema de livro e não tema bíblico. É uma narração muito antiga e muito bem aproveitada de relatos populares, muito próximos do modo de pensar dos católicos.
«- Vou para Roma para ser de novo crucificado!» Respondeu Cristo.
Relata também a vida de Roma ao tempo de São Pedro, “o primeiro Papa”, e a do Imperador Nero. Descreve as atrocidades a que os primeiros cristãos estiveram sujeitos e não deixa de ser expressão do pensamento, de usos e costumes Romanos decaídos, para os quais era necessário encontrar novos caminhos.

Com Jesus era diferente. Seguia para Roma em sentido contrário.
Quando Pedro perguntou «Quo vadis? Domine!» Talvez quisesse dizer:
«- Jesus! Conheces um caminho melhor?»
Ai Jesus podia ter-se limitado a insistir:
«- É este o Meu Caminho!

«Um dia Jesus pregou célebre sermão da montanha a cerca de cinco mil homens!
«O dia começava a declinar. Os Doze aproximaram-se e disseram-lhe: «Despede a multidão, para que, indo pelas aldeias e campos em redor, encontrem alimento e onde pernoitar, pois aqui estamos num lugar deserto.»
«Disse-lhes Ele: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Retorquiram: «Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!»
«Eram cerca de cinco mil homens!
Jesus disse aos discípulos: «Mandai-os sentar, e mandaram-nos sentar a todos.
«Tomando, então, os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos, para que distribuíssem.
«Todos comeram e ficaram saciados e, do que lhes tinha sobrado, ainda recolheram doze cestos cheios.

«- Quo vadis? É pergunta sacramental que devemos fazer a nós próprios para evitar que nos afastemos daquele que nem lá no cimo do Monte deixara esquecido o “farnel” do alimento para aqueles que o seguiam.
O seu “farnel” é sempre abundante e da melhor qualidade!
«- Quo vadis? Domine! Pedro esqueceu o passado e… retomando o “Caminho”, reassumiu os seus deveres para com Roma.

– Excerto do Evangelho segundo S.Lucas 6, 20-26.

m. c. santos leite

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Aqui para nós…

«chove em Santiago»  *)

Chove em Santiago,
Meu doce amor,
Camélia branca do ar
Brila entebrecida ô sol.
………………………
Olla a choiva pol-a rua
laio de pedra e cristal.
Olla no centro esvaído
soma e cinza do teu mar.»
Garcia Lorca  **)

O Apóstolo continua a ser o “pivot” de Compostela e dos Caminhos de Santiago, A Catedral banha a Cidade com a riqueza histórica e material em que flutua.
Salientando o riquíssimo “casco urbano, de feição “rústica”, belíssimo e “intocado”, Obra de Povo tenaz e esforçado. De muitos Santos e Beneméritos que a ajudaram a “elevar” a Cidade.

Se é quase impossível falar da cidade de Santiago sem falar do Apóstolo é difícil falar do Apóstolo sem falar da Cidade. O povoado foi crescendo e construindo a par e passo, com o crescendo da fama do Apóstolo.

A cidade de Compostela é muito rica: Começando pela história de povos antigos que vieram à Península: Normandos e piratas Ingleses e outros. Almonçor veio direito a Compostela atraído pela fama das forças ali geradas, que tinham cerceado aos Sarracenos, os caminhos da Europa.

 
À “Praça Maior”, fica na frente da Catedral e chamam-lhe “Obradoiro”. Ali, os ourives traficavam, o ouro.
Outra praça, a nascente, frente à porta Sul do “transcepto”, fica a chamada praça das “Platerias”. As obras de prata vendiam-se na “Praça das Platerias”.
O palácio Rajoy fica Frente à Catedral, na “praça Mayor” ou “Obradoiro”. O palácio Rajoy depois de outras serventias é utilizado como sede do “Governo da Galiza”.
À direita quem sai da catedral nota o Hostal dos Reys Católicos.
Algumas Faculdades da Universidade de Santiago estendem-se para lá do Hostal.
A riqueza de Santiago acompanha seu lado histórico plasmado  por tanto granito moreno esculpido que “fala” como documento da época, a autenticar a documentação histórica!

Da Praça das Platerias parte para Sul a “Rua de “Vilar” que é a rua central da cidade, vetusta e encantadora.
É a castiça ruazinha ladeada de antiquíssimos “sportales”, reminiscência românica, abrigam da chuva os forasteiros e abrigam as lojinhas “medievas”.
Ali pode encontrar queijo moldado em “tetillas”, um modo característico e antigo de apresentar queijo.
A “Rua de Vilar” e “Rua Nova” que pelo Norte a acompanha, emocionam pela vetustez e autenticidade.
A riqueza da Catedral “esconde” a imensa abundância” de arte e história, que se oculta pelo altar maior, pelos altares laterais, pela Catedral inteira, pelos museus e pela Cidade.

A devoção a Santiago sofreu grande incremento depois do ano de 711, quando os Maometanos invadiram a Península e, marchando para a Europa, foram milagrosamente sofreados em “Poittier´s”.
Depois disso, era aglutinadora a força do Apóstolo que passou a ser das chefias cristãs centrais, de onde partiam as ordens e estratégias militares.
Preparando a defesa, as ordens religiosas, espalhadas pela Europa e “compostas por forças populares organizadas por beneditinos”, iam “descendo” de França pelas praias do Cantábrico, para Sul; ora por mar ou por terra, reforçando mosteiros e prestando ajuda às povoações enquanto caminhavam para Compostela.

Pela “Idade média”, os peregrinos confrontados com a presença dos árabes na Península e calcorreando os célebres “Caminhos”, estenderam-se rapidamente por toda a Europa fazendo de Compostela um dos três mais importantes centros de peregrinação,  a nível mundial.
-
m. c. santos leite

*) – Com ajuda de: «Conde de Aurora – Caminho Português…(pª 235)»
**) – Idem.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

«Aqui para nós…!

" SÃO JOÃO BAPTISTA "


São João Baptista, depois de Jesus, foi um dos maiores homens da História.
Foi o grande “Percursor” de Jesus, de quem era “parente próximo, seis meses mais idoso.
Antecipou-se a Jesus com a altíssima missão de lhe preparar o percurso.
São João esteve retirado no deserto para fazer a sua provação de sacrifício.
Foi João quem deu aos homens os primeiros conhecimentos sobre a divina Missão de Jesus.
Falava com a máxima veemência e dizia de Jesus que «nem digno seria de Lhe apertar a correia da sandália».

Era filho de Isabel e Zacarias, sacerdote no Templo. O casal vivia em Paz e feliz apesar de não possuir filhos; esperança que ocultamente acalentava.

São João Baptista é o Santo da Cidade do Porto e de outras Cidades portuguesas, reserva-lhe o seu Feriado Municipal para celebrar o dia, com enorme noitada, toda preenchida de tradições, seguidas por compacta multidão que faz uso do vinho verde, da broa e da sardinha assada com abundância, seguindo religiosamente a tradição.
Pelas ruas são vendidas ervas aromáticas aos molhinhos: Cidreira, alfazema, alfádega, «alhos porro», vasinhos de «manjerico» etc.
Há música em abundância, marchas populares, ranchos que dançam em roda e cantam quadras tradicionais e improvisadas, dedicadas ao Santo, à noitada e à animação.

Noitada esfusiante!
A noitada que é vivida intensamente por todo o Norte de Portugal sendo muitas as terras que lhe dedicaram o «padroado, «o nome», o «dia santo» ou o feriado municipal.

Os rapazes no seu bairro ou aldeia, fazem sempre uma cascata, que é um pequeno monte em barro disposto em trono coberto de musgo. Ao centro, São João preside à cascata de que fazem parte figuras minimalistas de barro pintado, pastores, carneirinhos, coreto com banda de música etc.
A cascata representa a vida quotidiana do povo em eras passadas.
A cascata de São João é o centro das Festas populares. E as cidades dedicam-lhe as maiores festas do Norte de Portugal enquanto quase todas as aldeias lhe dedicam pequenos festejos com noitada de véspera e uma grande fogueira que o povo acende ao anoitecer enquanto lança pelos ares, foguetes e fogo de artifício.
O Povo suspende pelos ares cordéis com balões iluminados e enfeites e fazem subir, balões de São João, adquiridos na mercearia próxima.


Certo dia Herodes deu uma festa que terminaria em música, bailado e grande banquete.
Como bailarina, exibiu-se Salomé a filha da mulher que Herodes roubara ao irmão.
Salomé dançou primorosamente e no fim, ao cumprimentar Herodes, este disse-lhe:
«- Foz-te inexcedível! Pede-me o que quiseres que eu te darei.»
Salomé surpreendida e não sabendo o que pedir dirigiu-se à mãe para que a ajudasse na escolha da prenda que pediria.
«-Pede-lhe a cabeça de João
Herodes, que na presença de tanta gente, não podia retroceder viu-se compelido a cumprir a promessa.
Dentro de instantes já chegava ao salão a cabeça de João numa rica salva de prata.

João, numa das suas pregações tinha verberado o procedimento de Herodes acusando-o de não de não respeitar o compromisso entre o irmão e a mãe de Salomé, Herodíade e aproveitou ocasião para exercer vingança viperina.

São João, tinha convivido com Jesus apenas na infância e não sabia se reconheceria Jesus quando Ele se apresentasse para ser baptizado; até que numa noite, em sonho lhe foi dito que durante o Baptismo Jesus se daria a conhecer.
No momento em que São João lançava a água na cabaça de Jesus, viu que o Divino Espírito Santo, em forma de pomba descia sobre Jesus e ao mesmo tempo que uma voz, vinda do Céu se fazia ouvir, dizendo:
«- Este é o meu Filho muito amado em quem pus todo o meu enlevo!»

m c santos leite

segunda-feira, 23 de junho de 2014

São Francisco de Assis

Salvé 16 de Julho de 2014
Próximo Dia de São Francisco

Apontamento prévio
Com base na Enciclopédia Port/Brasileira. «Francisco»


Francisco levou na mocidade um vida de boémia, de dissipação, mas foi sempre muito amigo e preocupado com os pobres, até que pelo ano de 1202 se afastou da vida de dissipação que até aí levara, e afastou-se dos seus companheiros.
Passou a dedicar-se à oração e a uma rígida penitência de pobreza que imitava Cristo no Seu modo de viver, dia a dia.

O pai, ao ver as grandes esmolas que dava aos pobres e com os gastos que Francisco fazia na reconstrução da Igreja de São Damião, aflito, decidiu deserdá-lo.
Francisco no Tribuna, como resposta, despiu-se e entregou as roupas ao pai. Depois, por uns tempos viveu refugiado na mata do Monte Subásio.
Os três anos seguintes passou-os na maior pobreza, na leprosaria, a tratar leprosos.

Ide e ponde-vos a caminho e pregai dizendo:
«- Está próximo o Reino dos Céus. Curai os enfermos; ressuscitai os mortos; limpai os leprosos; expulsai os demónios; Aquilo que de graça o recebes-te, dai-o de graça.
Não queirais prata nem ouro nem dinheiro, nem duas túnicas, nem calçado.
O operário é digno do seu alimento.»

São Francisco é das mais ricas e solícitas figuras que passaram por este mundo, tal a fragante ternura que o rodeava.
Das características do seu espírito, Giotto celebrizou-o nos seus quadros famosos: «As sagradas núpcias com a Dama Pobreza», «A alegria» que viriam a constituir os suaves preceitos da sua Rega.
O encanto que a Natureza inteira inspirava-o, manifestando-se. depois pelos modos mais originais.
Francisco a todos tratava por Irmão: « A Irmã Lua; o Irmão Sol; o Irmão Vento; a Irmã Água, etc, e todos eram tratados assim, como modo de incentivar a perceção da maravilha do amor de Deus.
No fim da vida, cauterizando-se com um ferro em brasa, Francisco dirigiu-se ao Irmão fogo pedindo-lhe que «o tratasse com brandura» e lembrou-lhe que sempre o amara.
Francisco foi um místico, na maior aceção da palavra.
Foi um asceta que gastou o próprio corpo e a vida, nas mais duras privações, por amor a Cristo e Sua doutrina.

Os seus principais trabalhos foram redação e a revisão da «Regra», que regeria a «Ordem Terceira de São Francisco». Grande comunidade de pessoas que «sem abandonar o “mundo”, nem seu modo de ser se prontificavam a seguir os princípios da “vida franciscana».




Resumo breve de
O Poverello “S. FRANCISCO DE ASSIS” – do P. Fernando Félix Lopes
Editorial Franciscana - Braga


As “LEGENDAS”
A biografia de S. Francisco, por diversos tipos de registos, está muito documentada.
Entre os mais célebres registos sobressaem as “legendas” que, são muitas.
A partir delas muitos autores, em particular os que conviveram com o Santo, construíram valiosas e bem documentadas obras, sobre a vida do Santo de Assis.

As “Legendas” são escritos biográficos trabalhados por escritores franciscanos e outros, contemporâneos do Santo, a quem o Papa por intermédio dos Freires Elias e Tomás Celano recomendou, «que escrevessem apontamentos sobre “pormenores” da vida do Santo para que não fossem perdidos no esquecimento.

Estes pormenores escritos, foram enviados ao bispo de Assis e por ele protegidos; chamaram –lhes “legendas”, e fazem hoje parte valiosa da “Biblioteca de Assis”.

A Paixão dos “Cinco Santos Mártires de Marrocos” foi tratada numa “legenda”, escrita pelo Infante D. Pedro de Portugal e enviada para Assis.

«Naquele dia São Francisco andava zangado consigo mesmo.»
Chegara a notícia do acontecido com os Irmãos enviados a Marrocos pouco tempo antes. Atá aí poucas notícias tinha havido.
Mais tarde chegara a “legenda” e o Santo ficara muito triste ao Aperceber-se de que, se não fora a Legenda, em Assis, nem os nomes dos Santos Mártires saberiam. Ninguém tinha apontara os seus nomes! Houvera grave esquecimento!


São Francisco de Assis


I - Biografia
São Francisco nasceu em Assis por volta de 1181 ou 1182. Certezas não há.
A história do seu nascimento é curiosa pois passara o dia previsto para o nascimento, sem que o nascimento se verificasse! E isso várias vezes acontecera.
Por fim a aflição da mãe, D. Pica, levou-a a pensar no presépio de Belém e pediu que a descessem ao curral, e que a deitassem entre o boi, o jumento e a manjedoura para que Deus se lembrasse do seu parto e a ajudasse…
Assim fizeram e daí a pouco o “bambino” viu a luz.

Entretanto alguém bateu à porta. Era um pobre que pedia se o deixavam ver o menino e logo o pobre profetizou:
«- Este, “eleito por Deus”, será o homem dos meus encantos!»
Nesse dia o pai, Pedro Bernardote, andava por longe em negócios e madona sem demora mandou que o batizassem. Ficou a chamar-se João.
Mas o pai, sempre lhe chamara Francisco. E assim ficou.

Na escola, aprendeu a ler, doutrina, moral, retórica, latim, artes etc. O pai aguardava a vez de lhe ensinar “as artes e as manhas do negócio” que lhe enchia a casa de dinheiro e de fama.
Queria ver no filho um comerciante; queria um bom continuador para a casa, e não um doutor.
A casa dos pais de Francisco possuía um pequeno quartel de serventuários: profissionais da lavoura, do comércio, escudeiros e homens de armas para zelar pela segurança das pessoas e mercadorias em trânsito por caminhos infestados de malfeitores.
Assis era uma cidade relíquia, entalada entre montes; era pequena mas, aconchegada e activa.
Bernardote esperava o tempo em que pudesse ver o filho a aviar clientes.
Francisco era já apontado pelos comerciantes da praça de Assis e tão bom e capaz como o pai.

Em tempos livres, um rancho de rapazes” acompanhava-o sempre. Francisco era o “rei da festa” em brincadeiras que muitas vezes terminavam em serenata. Como poeta preparava-lhes “as poesias” e não faltava quem, à boa maneira italiana, juntasse à música, a voz e o “canto”.
Enquanto os rapazes de Assis se juntavam a Francisco, as meninas procuravam janelas para ouvir as serenatas. Quando havia algo a pagar das patuscadas, era tudo com ele. E corria bem!
Pedro Bernardote olhava de lado para a vida de “estroina” do filho.
O futuro que anteviam para o filho era tão diferente dos seus, que os trazia preocupados.
Uma ou outra vez, entre os pais, houve em particular compreensíveis lamentos:
«- A esbanjar assim… não sei onde isto vai parar?»
Afora isso nada havia que se lhe apontasse. Era um excelente rapaz.

Um dia Francisco, aviava fregueses, quando notou um mendigo que pedia esmola à porta.
«- Agora não tenho vagar!»
E no mesmo instante, apercebeu-se daquilo que realmente se passara. E pensou para si:
«- Que fizeste tu?
- Alguém que te pedisse em nome de um príncipe era atendido! Pediu-te em nome de Deus e… manda-lo embora!»
E largou a correr, rua abaixo atrás do pobre, e mete-lhe na mão a mais grossa moeda.

II - Sonhos De Cavaleiro
Francisco adoecera e, em delírio sentiu que alguém o levava a um grande castelo.
Era edifício muito belo e bem decorado. As paredes suportavam colecções de quadros, de armas e “apetrechos” de guerra ricos e belamente trabalhados.

Em Assis a Porta Nova ficava ali à mão; do outro lado o imponente Monte Subásio e a estrada de Folinho que Francisco tantas vezes a percorrera; Via-se o casario por entre verdejantes searas, vinhas e arvoredo.
Era região mística, piedosa e fonte de mártires! Francisco sempre ali se demorava a contemplar o quadro sedutor.
Entretanto convalesceu e retomou o seu trabalho na loja.

Godofredo, conde de Briene, descera de França com nutrido cortejo de guerreiros, declarando-se às ordens do Papa e pronto para incorporar nova Cruzada.
Outros cavaleiros começaram a afluir. Na Apúlia podiam alistar-se nos vários exércitos.
O conde de Gentil, em 1005 alistava guerreiros para formar pequena hoste e Francisco fora aceite.
Procurou aprestar-se com armas ricas e luxos de grande Príncipe quando notara que a seu lado seguiria outro cavaleiro de vestes coçadas.

Francisco febril ainda… perguntou de quem era o castelo e a mesma voz respondeu:
«- Tudo isto é para ti e para os teus soldados.»
Madrugou. Delirara mas estava mais contente. Seria armado cavaleiro. Seguiria com a Cruzada para o Oriente. «- Ainda hei-de ser um grande príncipe!»
Meteu-se a caminho da Apúlia mas, febril recolheu ao leito.
A mesma voz pergunta-lhe qual o destino da jornada?
«- A Apúlia. Depois vou com a Cruzada para o Oriente.»
«- Diz-me lá Francisco:
«- Quem é que pode dar-te maior ventura? O senhor ou o servo? O rico ou o pobre?
Resposta:
«- O senhor…o rico.»
«- Então deixas o senhor para servir o criado? Volta para Assis e lá te será dito o que te importa cumprir.
De manhã desculpou-se com os companheiros e regressou a Assis.
A cidade inteira não escondia o espanto do inglório regresso e galhofava dele:
«- Deixem-no! Sonha com a noiva com quem quer casar!»
«- Acertas-te amigo! De facto sonho com receber esposa. Responde-lhes.
«- Pronto Senhor. Aqui estou para fazer a Vossa vontade.»

Mais uma vez a voz se faz ouvir:
«- Olha Francisco, se queres conhecer a tua vontade é necessário que a ti mesmo te desprezes; que aborreças quanto amas-te!»
Amargava-lhe a pobreza que é Cruz que humilha. “Cristo é Deus feito pobreza.” Havia de o educar até gostar de “Cristo pobre”.
No regresso a Assis redobrou de misericórdia para com os pobres. A misericórdia é o pão da esmola, o pão da amizade; o pão do convívio com o pobre.

A luta contra si já era compaixão feita piedade.
O homem se não chega a Homem é um comprimido de preguiças e coisas estéreis, preso por cobardias e egoísmos.
Francisco, em gestos de heroísmo, foi-se libertando de luxos e desejos.
Aprenderia a…
«Dar-se de esmola.»


III - O jogral de Deus
Decorria o ano de 1206. A velha ermida de S. Damião, tinha interior nu e pobre. Ao fundo, o altar era singelo; Uma tábua bizantina que mostrava Cristo de Braços caídos. Esquecidos e grandes olhos que procuravam olhos devotos.
«- Fazei Senhor que de tal modo vos conheça que sempre proceda segundo vossos mandamentos e vontade!
Francisco rezou e preparava-se para sair. De olhos cheios de lágrimas.
Do altar vinha uma voz que repetiu três vezes:
«- Francisco! Vai e repara a minha Igreja que, toda se arruína!
«- Pronto Senhor! Vou já!
As Chagas da Paixão gravavam-se em Francisco. Foi a casa e munindo-se de uns panos arrumados e foi vende-los a Folinho e, nem o cavalo escapou.
De volta encontrou o sacerdote da ermida e entregou-lhe o dinheiro para o restauro e para o azeite da lâmpada.
Foi a ordem que recebera do Crucifixo!
Dirigiu-se a Assis. Usaria a sua capacidade poética e cantaria pela cidade. A pequenina Igreja de S. Damião era merecedora de tudo e Francisco passou a cantarolar pelas ruas:
«- Eu sou o arauto do grande Rei!
«- Quem me der uma pedra, terá uma recompensa;
Quem me der duas terá duas recompensas;
E quem me der três,
Outras recompensas há-de ter!»
Houve quem mofasse e o tratasse de doido! Outros conheciam-no, comoviam-se e ajudavam.
O jogral de Deus pedia a cantar! Pedia pedras aparelhadas, derrubadas de ruínas… Quantas lhe deram! Carregava-as contente e levava-as para S. Damião.
Francisco virou pedras pesadas; serviu argamassa como “rapaz de trolha”.
Passava gente por lá e punha-se a olhar e Francisco dizia-lhes.
«- Vinde daí deitar uma mão. Só por um bocadinho!»
Alguns aceitavam e achavam graça, voltavam noutro dia.
Francisco subia aos andaimes para levar água ou argamassa, trabalhando para além das forças. O padre capelão notou isso e começou a dar-lhe mais carne. Ele apercebeu-se e agradeceu. Então pôs-se a falar consigo próprio:
«- Julgas tu Francisco que voltas a encontrar sacerdote que te trate com tanta caridade?»
«A tua mesa parece a mesa de um rico mas isto assim não vai bem!
«O pobre faz como os outros pobres!»
E de escudela na mão lá foi de porta em porta a “cantar e a esmolar” o sustento.
Escudela cheia, sentou-se para comer mas… tanta mistela que lhe “dera volta” e nada conseguia meter à boca.
«- O pobre faz como os outros pobres!» Dizia para si.»
E com gestos de violência, forçava. E de olhos fechados levava a escudela à boca e forçava “o manjar” pela goela abaixo… tinha de ser!
Aliviado e contente por mais uma vitória. O bocado soubera-lhe tão bem como o melhor manjar doutros tempos e vitorioso deu graças.
Em S. Damião encontrou o sacerdote que lhe tinha melhorado a dieta e disse-lhe que não se preocupasse com comida pois tinha mesa posta na cidade.

Restaurada S. Damião o Santo viu outras igrejas.
Reparou melhor a Igreja de S. Pedro e a capela da Porciúncula (que quer dizer: “eido”)
A Capela da Porciúncula fica no interior da basílica de Nossa Senhora dos Anjos.
No processo de canonização de Santa Clara de Assis ficou terna a lembrança dos dinheiros que mandava para que aqueles que trabalhavam em Santa Maria da Porciúncula tivessem vianda de carne na diária dieta alimentar.

E Francisco viveu assim dois anos a restaurar igrejas. As três capelas restauradas conquistaram para Francisco a simpatia de Assis.
Já ninguém lhe chamaria louco. Assis foi toda simpatia pela obra de Francisco.
Louco sim! Mas… loucura de Cristo!

IV - O Evangelho
é Jesus Vivo, a Falar
Decorria o dia 24 de Fevereiro de 1209 era dia da Festa de S. Matias. Descera um monge beneditino do Subásio para celebrar Missa e iniciou o Evangelho com cadenciada leitura.

« - Ide pois até às ovelhas tresmalhadas de Israel e pregai pelos caminhos:
- Está próximo o reino dos céus!
Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demónios: dai de graça o que de graça recebestes. Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nas vossas bolsas, nem alforge para a viagem, nem duas túnicas nem calçado nem bordão, pois quem trabalha tem direito ao sustento.
Quando entrares em qualquer cidade ou aldeia informai-vos de quem seja digno de vos hospedar, e com ele ficai até de novo vos meterdes ao caminho. E ao entrares nessa casa saudai dizendo:
- A paz seja nesta casa. E se aquela casa o merecer, nela entrará a vossa paz; e se não merecer, para voz tornará a Paz. E sucedendo não vos aceitar alguém em sua casa ou qualquer cidade não vos prestar ouvidos, ao deixar essa casa ou cidade sacudi o pó dos vossos pés. (Mt. 10, 6-14)»

Francisco assistira e, como sempre e estava muito atento, quando uma luz lhe iluminou o coração.
Aquilo era Jesus vivo a responder às súplicas que lhe vinha dirigindo, pensou consigo.
Tantas vezes lia o Evangelho e o ouvia ler. Lia-o e ouvia-o, todavia como história velha de muitos séculos que recontava as conversas com os discípulos e a sua pregação às gentes que acudiam a escutá-lo numa paisagem singela de encantos, numa atmosfera empoalhada de neblina em que lá atrás o tempo vai amortalhando as coisas. Mas andara errado, o Evangelho sentiu-o bem naquela hora – era Jesus vivo a falar aos Homens de todos os tempos, a todas as gerações; era Jesus a falar com ele.
Os Apóstolos escolhidos para levar até ao fim dos tempos a obra da redenção de Deus do crescer da sua Igreja, do Reino de Deus restaurado. O programa de vida e o programa do primeiro ensaio a que Jesus os mandou, o trecho evangélico que ouviste ler na Missa de hoje.
Francisco exclamou:
«- Entendi!
O Evangelho é Jesus vivo a falar comigo. Agora entendo qual a Igreja a que se referia o Cristo de S. Damião quando por três vezes me disse a repisar:

V - «- francisco!
Repara a minha Igreja»
Ei-lo agora ali em conversa. Sentiu a sua presença, ouviu as palavras que lhe disse. Nem dera por isso, mas os muitos dias passados a meditar a pesar o valor da vida pelas grutas solitárias, os carinhos e as esmolas com que consolara os pobres e leprosos, a pouco e pouco lhe haviam curado a cegueira da alma, alumiando-a para que pudesse ver: os dois anos passados diante do crucifixo de S. Damião e das outras ermidas enquanto passavam os dias canseirosamente nos trabalhos de reconstrução, haviam-lhe afinado o ouvido para que pudesse distinguir a voz de Jesus.
Finda a Missa pediu ao sacerdote que lhe explicasse o texto lido no Evangelho.
E o sacerdote tudo lhe explicou, frisando alguns pontos.


VI - Sermão dos olhos imodestos
Certo um rei mandou, um atrás do outro, dois emissários à rainha, sua esposa.
Voltou o primeiro com a resposta singela, que levara Seus olhos discretos e nada viram que contar. Veio também o outro.
Mal tinha dado a resposta ao recado, ei-lo que se abre em louvores à formosura da rainha.
«- Verdadeiramente senhor não pode haver no mundo mulher mais bela. Por feliz vos deveis ter, pois desposas-te a “própria formosura”.
«- Ó atrevido, atalhou o rei, tu ousas-te por os olhos na minha esposa? Olhos que apreciam são olhos que cobiçam.
E mandou chamar o primeiro para lhe perguntar como lhe parecera a rainha.
«- Muito bem senhor; em silêncio escutou o recado e depois discretamente desaparecera.
«- E não achas-te que era formosa?
«- Fui senhor, com um recado para haver resposta, e não fui apreciar formosuras!
E o rei deu logo a sentença:
«- Tu, servo de olhos castos, continuas ao meu serviço pois me dás a certeza de que também casto serás nas obras. Mas tu, de olhos imodestos… longe da minha casa! Nunca poderia descansar seguro com olhos de cobiça à minha beira!

VII – “Sorella Clara”
Não se sabe quando Francisco e Clara se viram pela primeira vez, mas ficaram unidos em santa comunhão de caridade. Amizade em que muitos viram, em Deus, a causa.

Clara” nasceu em Assis em 1199 quando o populacho obrigou os nobres insubmissos, a obedecer à comuna. Clara aprendeu com a insegurança, perguntando-se se não haveria algo de mais consistente a que consagrar a vida.
Ela reservava sempre algumas moedas para os mais pobres.
Foi então que viu que a vida deve ser sacrifício e caridade.
Viver deve ser bem-fazer! Clara, por debaixo dos luxuosos trajes trazia sempre cilícios que lhe lembravam as dores do próximo que devia aliviar. Dores que doem como doeram a Cristo, na Paixão que remiu os Homens!
Um bom casamento foi adiando por Clara; Ela queria traçar por si os seus destinos e não fossem outros a traça-los.
O perfume que da sua virtude cativava. O povo de Assis adorava-a e os nobres das redondezas sonhavam com o seu coração.

Um dia pregava o Poverello na Catedral de S. Rufino; seria pela Quaresma de 1212.
A mãe e Clara foram ouvir. Francisco produziu em ambas profunda comoção. Clara sentiu que se lhe esclareciam dúvidas e quis ouvir conselhos.
A amiga “Bona Guelfúccio” confessou que muitas vezes foi entregar aos operários a Santa Maria dos Anjos, algumas moedas para que pudessem comer carne.
Clara foi contagiada pela divina loucura!
“Bona Guelfúccio” diz:
«- “Eu mesma muitas vezes fui com Clara falar a S. Francisco e íamos às escondidas para não ser vista pelos pais.»
O Santo falava-lhe de Jesus dizendo-lhe que se convertesse toda a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Era Domingo de Palmas; o bispo Guido pontificou; Clara foi assistir.
À hora da distribuição das Palmas todos vieram ao encontro do bispo… que estava “por dentro do segredo” notou que, Clara comovida, não se aproximara, foi pela Igreja abaixo e entrega-lhe a Palma.

À noite todos dormem. Clara tinha escolhido esta hora para que não lhe tolhessem os planos.
Dirigiu-se a uma porta escura do palácio. Era «a porta dos mortos» que só se abria para sair os finados e por essa porta, na companhia de “Pacífica Guelfúccio”, deixou o palácio.

Ao outro dia, Clara não apareceu e viram aberta a «a porta dos mortos». Em casa dos Favarone houve sobressalto. Pela cidade correu notícia e conhecia-se o paradeiro.
Abandonar aquele palácio sumptuoso para viver a vida de «IL Poverello», era demais! A honra entre os Favarone era comum a toda a família que, de imediato, quis evitar a consumação do projecto.
Clara entrava em “S. Paulo de Bástia” quando, a galope chegou um magote de cavaleiros para repor, sem demora, a normalidade.
Clara corre pelo templo acima, até ao altar-mor e agarra-se às toalhas. Os cavaleiros já nada puderam fazer.
As toalhas do altar são sagradas e sagram quem a elas se apega. Tirar Clara dali pela força seria, sair dali excomungado. E ninguém lhe tocou!

Agora é Inês que aos quinze anos quer juntar-se a Clara.
As beneditinas de S. Paulo recearam; se Inês fugia para lá exasperaria a Paixão dos seus.
Clara, Fr.Francisco e Fr.Filipe, daí a dias passavam-se para mosteiro mais protegido; Para o mosteiro de S. Ângelo de Panzo nas fraldas do Subásio. Duas semanas depois Inês já estava com eles mas um tio com dose cavaleiros não tardaram em ir buscá-la.
«- Vale-me Sorella Clara. Não deixes que me roubem ao meu Senhor Jesus Cristo!»
Clara não sabia como enfrentar situação tão dolorosa e melindrosa, refugiou-se na cela a rezar.
E a ágil dúzia de cavaleiros começa a sentir Inês a cada instante mais pesada e tão pesada que parecia de chumbo. Monaldo intervém mas, tomando-lhe um braço sente-o coberto de ferro; agora é ele que se sente impotente e sem forças.
Em menos de um mês já estavam ambas em S. Damião, perto de Assis; O bispo Guido cedera-lhes a Capela que Francisco restaurara e a casa pobrezinha que lhe ficava encostada.
Agora é Beatriz, a mais nova das irmãs de Clara, depois é a sua mãe Hortolana, logo que viuvou e até a sobrinha Amata de Corcorano desabafou com a tia a sua felicidade:
- Ia casar daí a pouco com um rapaz rico e esbelto; a tia de tais coisas lhe falou que daí a dias voltava para vestir o hábito. E muitas nobres quiseram seguir Sorella; reunir-se à volta de Jesus que um dia pedira a Francisco que lhe reparasse a sua Igreja em ruínas.

Casario minúsculo que ainda se conserva como era; o pequeno coro e a sala onde se estendiam as enxergas para dormir; o refeitório e um oratório e o jardinzinho de vistas largas para o vale da Porciúncula.
Francisco quando estava em Assis, costumava visitar Clara muitas vezes para lhe dar as suas instruções.
Apesar dos desejos de Clara, comer uma só vez que fosse com Francisco, nunca ele lhe dera tal gosto. Um dia seus freires chamaram-lhe à atenção.
- Não nos perece conforme com a caridade. Porque não atendes à Irmã Clara, virgem tão santa e digna!
«- Parece-vos que a devo atender?
«- Como há tanto tempo vive reclusa em S. Damião, por certo gostará de voltar ao lugar onde veio fazer-se esposa de Jesus Cristo.
No dia combinado saiu Clara do seu mosteiro com outra da irmãs. Chegada a Santa Maria dos Anjos, foi saudar a Virgem onde o Poverello lhe cortara as tranças.
A mesa mandara Francisco, foi preparada sobre a terra nua e todos se sentaram em volta, bem assim Francisco, Clara a outra Irmã e os frades.
«- Francisco disse-lhe: Prepara-te, pode ser que necessite de ti para te enviar a algum mosteiro.
- Padre estou sempre pronta para ir, onde quer que me envies!
E Francisco começou por lhes falar de Deus, mas tão suavemente, tão maviosamente que apanhados pela divina Paz todos foram arrebatados pela abundância de graças de Deus.
Até à morte Francisco, dela e de todas tomou sempre todo o cuidado. E a última visita que fez a S. Damião, para dar a Soror Clara, o adeus da despedida já era morto e foi deitado no seu esquife!
Clara viveu ali durante quarenta anos em que foi modelo de pobreza. Mandara distribuir seu património aos pobres e as irmãs fizeram de igual modo!

Em Setembro 1240 os sarracenos passam por Assis e escalam os muros do mosteiro.
Clara, de cama levanta-se e manda que lhe tragam a custódia com o SS. Sacramento. Todas ajoelham:
«- Guarda Senhor este pequenino rebanho! Implora Clara e Jesus responde:
« - Sossega filha que sempre o guardarei! E os sarracenos debandaram; mas passado um ano “Vital de Anversa” vem sitiar Assis.
«- Muitos benefícios devemos à nossa Cidade, é tempo de lhos pagar.» Diz a Santa.
Jejum a pão e água sem mais nada e imploram a protecção de Deus! Ao outro dia “Vital de Anversa” retira.

Decorria 11 de Agosto de 1252, Clara está de cama a aguardar os últimos momentos. Trazem-lhe a Bula do Papa a aprovar a Regra e a Pobreza. Estão presentes três Frades de Francisco, que o representam… Francisco há muito tinha partido!
É a hora final que se aproxima e a alma já ensaia a partida!
«- Vai segura! Vai em Paz!
Tens bom guia à chegada!»

VIII - SÃO FRANCISCO
E A OVELHINHA
A Parábola da ovelhinha divina, engendrada pelo meigo Poeta correra como relâmpago.
O Santo expusera o mito da ovelhinha divina, comparando-a à mansidão de Nosso Senhor.
Certo dia jornadeavam pelo monte e Francisco levava um companheiro.
Tiveram de parar porque, um grande rebanho de cabras atravessava o caminho.
Notou Francisco uma ovelhinha branca, perdida entre as velhas rezes do insolente rebanho.

Francisco que notara que a ovelhinha amiudava o passo para acompanhar as velhas rezes, disse para o companheiro:
«- Irmão. Vês esta ovelhinha tão mansa, como vai tão triste no meio desses fariseus! Vê se a podes livrar de tão má companhia.»
Mas o Irmão não sabia como a retirar do rebanho e o pastor queria por ela uma paga que eles não podiam possuíam.
Apareceu então por ali um cavalheiro que ao aperceber-se da situação comprou a ovelhinha e deu-a a Francisco que a tomara para tema das pregações daquele dia.
Na cidade contou ao bispo o que se passara e como achava viva a doçura e a humildade de Jesus, e como a ovelhinha andava sozinha e envergonhada, entre cabras e bodes, sem que lhe ouvissem um queixume.
Para Francisco o sermão da ovelhinha era comparável à divina mansidão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando o “Bom Pastor”, saía com o Seu rebanho, procurava uma fonte de água limpa e uma sombra fresca onde as ovelhinhas pudessem recuperar do cansaço.
Jesus sentava-se e o rebanho deitava-se à sua volta.
Jesus tão perto ficava das ovelhas que assumia o cheiro do rebanho.
Depois com o rebanho descansado Jesus falava-lhes; E as ovelhas porque o conheciam pelo cheiro…
E ouviam-no.

IX – Gente Humilde da Porciúncula
Frei Masseu, um dos primeiros companheiros de Francisco, perguntou-lhe certa vez:
«- Porque a ti? Porque a ti? Porque a ti?»
«- Não te entendo! Não percebo o que queres dizer!»
Respondeu Francisco e Frei Masseu explicou:
«- De onde vem que tudo ande a trás de ti. Todos querem ver-te, ouvir-te e te querem obedecer.
Francisco respondeu:
«- Queres saber? Porque a mim, Porque a mim?»
«- Vem daqueles olhos… daquele Deus altíssimo que por toda a parte contempla os bons e os maus.
E como esses olhos não descobriram entre os pecadores nenhum mais vil, nem mais ignorante nem mais pecador que eu; e como para levar diante da obra maravilhosa que intentava; o Senhor não encontrando sobre a terra mais vil criatura, para confundir a nobreza, a grandeza, a força e a formosura, escolheu-me a mim! Para que se saiba que toda a virtude, todo o bem, são d´Ele e ninguém se pode gloriar em sua presença. Mas se alguém se gloriar, glorie-se no Senhor a quem pertence toda a honra e glória por toda a eternidade.»
«- Francisco era apenas um vilão, o filho de Pedro Brandão.»


A GRANDE RESPOSTA!
«- Queres saber porque a mim; Porque a mim; Porque a mim?
Isto vem daqueles olhos do altíssimo que me inundaram com sua luz e graça para que se saiba que toda a beleza vem Dele e só Dele!
A beleza dos olhos de Deus batia em cheio nos olhos de Francisco, que era uma alma cheia de Deus.
«- Verdadeiro frade menor será aquele que tiver as virtudes destes santos frades: a fé; o amor à pobreza; a simplicidade e a pureza.»


X - PRECE DE SÃO FRANCISCO



PRECE DE SÃO FRANCISCO


Ó SENHOR
Faz de mim instrumento da Tua Paz,
Onde haja ódio, que eu leve o Amor,
Onde haja ofensa que eu leve o Perdão,
Onde haja discórdia que eu leve a União,
Onde há dúvidas que eu leve a Fé,
Onde há erros que eu leve a Verdade,
Onde há desespero, que eu leve a Esperança,
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria,
Onde há trevas que eu leve a Luz,
Ò Mestre! Faz que eu procure menos:
Ser consolado, que consolar,
Ser compreendido, que compreender,
Ser amado, que amar…
Porquanto: É dando, que se recebe,
É perdoando, que se é perdoado,
É morrendo, que se vive para a Vida Eterna.


São Francisco


São Francisco era um poeta e, durante toda a vida fez excelente uso dessa Arte prodigiosa para honrar e servir o Senhor!
A PRECE DE SÃO FRANCISCO é um poema maravilhoso, que junta á sua poética a grande capacidade e espontaneidade que possuía como evangelizador.


A grande beleza deste poema faz com que seja universalmente conhecido e admirado.



XI - O PRESÉPIO
Francisco pensava há muito tempo em fazer um Presépio pelo Natal.
Seria um presépio vivo, natural, que transmitisse a quem o visse, ou assistisse à Missa, a sensação de pobreza e total carência de meios em que o nascimento em Belém, do Menino Deus, Nosso Redentor, se verificou.

Começaria por escolher um “cenário natural”, agreste… lá pelo monte! Pensou que alguém traria uma manjedoura, a vaca e a jumentinha. Um pouco de feno para os animais e um pouco de palha para criar um cenário e ambiente de curral.
O monte em Gréccio foi logo escolhido pela beleza da penedia que lhe parecia recrear o ambiente de avassaladora grandeza e de desconforto como àquele que Jesus sofrera ao nascer em Belém.

Em Grécio morava um homem, o João Velita, cavalheiro muito virtuoso e muito amigo de S. Francisco; certamente que apreciaria organizar este “Presépio Vivo”.
Um dia S. Francisco encontrou-o casualmente, e falou-lhe.
« - Olha João! Este ano muito queria celebrar o Natal do Menino Deus!
Queria representa-lo de maneira que o Povo visse o desconforto do curral onde Jesus nascera, naquela gelada noite de Dezembro.
- O Povo veria o divino Jesus deitado sobre o feno da manjedoura, bafejado pelo boi e por uma jumentinha. Haverá por lá carneiros branquinhos.
- Escolheriam um Casal amigo com um filhinho de tenra idade para figurar de Sagrada Família.
- Fazia-se lá um altar e celebraríamos lá a Missa da noite de Natal.

O homem logo se mostrou encantado com a Missão e, no seu entusiasmo, começou a tomar todas as previdências para que tudo decorresse como São Francisco pensara.
Podia ser tudo preparado junto ao recôncavo dos rochedos do monte de Gréccio, que ficam próximo dos campos de Riéti.
Tudo se arranjaria e tudo resultaria pelo melhor.

Era noite de Natal e, o Povo de Gréccio surgia por todos os carreiros que levavam à penedia. À hora da Missa o Povo, indiferente ao frio e à chuva compareceu.
Á Missa Francisco de dalmática ministrou como acólito e leu o Evangelho com voz cheia de ternura. Abrasado de amor enterneceu-se e a sua ternura transmitiu-se aos fiéis.

A Santa Missa comemorou com grande emoção o nascimento de Jesus… O Menino de Belém!

XII - OS “MENDRUGOS DE PÃO”
São Francisco despede-se de seus homens que dois a dois ou em pequenos grupos, envia para muitos dos longínquos campos de pregação da Ordem.
Resta-lhe Frei Masseu e com ele, marcha para França.
Francisco simpatizava com os franceses!
Entraram os dois numa cidade e a fome meteu-os a pedir esmola. Francisco seguiu por uma rua e, pequeno e mal arranjado como era só lhe deram “mendrugos de pão”. Pão duro e pouco. Frei Masseu, gentil e bela presença, foi por outra rua e recebeu bons bocados e até pães inteiros.
No fim sentaram-se perto de uma fonte onde uma pedra lhes servia de mesa ao pão esmolado e o Santo disse:
« - Ó Frei Masseu não somos dignos de tesouro tamanho!
Masseu espantado e mirando o resultado do peditório, disse por fim:
« - Por amor de Deus padre! Nem toalha, nem pratos, nem nada!
- Só estes “mendrugos de pão”?»

E Soão Francisco explicara:
Porque aqui nada há de aparelhado pela indústria humana.
- A Divina Providência encarregou-se de tudo nos dar: Este pão mendigado; esta pedra para servir de mesa; a puríssima e fresca água da fonte e… esta Paz e tranquilidade!
- Não será isto – nobre tesouro da Santa Pobreza – tudo digno de ser amado por todo o nobre coração?»

XIII – Epílogo
Dia de Domingo, 4 de Outubro de 1226, logo de manhã, o préstito fúnebre sobe de Santa Maria dos Anjos para a cidade de Assis. Amortalhado no burel.
Olhos fechados lá vai levado pelos frades, entre círios e nuvens de incenso.
A salmodia e os cânticos litúrgicos prendem-se em soluços e lágrimas de saudade. Vai ali o Pai que os filhos levam o pai à sepultura…
O cortejo corta para São Damião. O Poverello tinha prometido uma visita de despedida a madona Sorella Clara! …
O esquife entra na capelinha.
Foi a última visita “aos olhos grandes da imagem de Cristo” da Cruz bizantina de São Damião.
2014-05-30




Com base na Enciclopédia Port/Brasileira. «Francisco, Pagª, 777»


Os estígmas de São Francisco


Depois de ter estado quarenta dias no Monte Alverne, dois anos antes da morte, Francisco teve uma visão:
Sabatier conta assim:
« Um dia ao amanhecer o Santo viu um Anjo que o sobrevoava, inundando-o de uma delícia indizível.
Quando o serafim desapareceu, às delícias seguiram-se dores agudas.
Perturbado; quando procurava a razão de ser daquilo que lhe acontecia notou no seu corpo os estigmas do Crucificado. Estigmas que não eram como chagas abertas mas, excrescências carnudas em forma e da cor de cabeças de pregos.
Francisco esgotado teve de ser trazido para Assis.
Se bem que estivesse quase, completamente cego, continuou a trabalhar com alegria. Os últimos tempos de vida passou-os no meio de grandes sofrimentos.
Faleceu na Porciúncula em 3/x/1226 e foi canonizado dois anos depois.


sábado, 3 de maio de 2014

Salvé 13 de MAIO de 2014







    A «mãe»

                             e os Pastorinhos de

                      Fátima








 

“Memórias da Irmã Lúcia”

«Estas memórias são realmente uma das mais
extraordinárias obras da literatura católica do
nosso tempo.
- São o testemunho mais rico, mais vivo e mais
completo…
- Provocam no leitor um justo entusiasmo pela
sua leitura, levado ao encanto por um estilo
puro, simples e sempre animado dum sublime
sentimento religioso e de convicção
profundamente sincera. Etc.»

                                                (Resumo do livro)

                                                           P. Luís Kondor
          
                                                                                                            “Memórias da Irmã Lúcia”
                                          Edição da Postulação da Irmã Lúcia

 

“Era uma Senhora Mais brilhante que o Sol!”

«Os grandes acontecimentos que se deram na Cova da Iria nos meses de Maio a Outubro de 1917 despertaram, especialmente nestes últimos anos não só na Igreja, portuguesa mas em todo o mundo católico, um interesse extraordinário. Multiplicaram-se assim duma forma que quase diremos prodigiosa as publicações sobre as Aparições da Virgem Santíssima e sobre os vultos enternecedores dos Pastorinhos de Fátima.

Isto, não só em língua Portuguesa, mas em várias outras línguas. Etc.»
(Resumo do livro)
P. João de Marchi, I.M.C.
  
   «Era Uma Senhora Mais Brilhante que o Sol!»
 Edição das «Emissões da Consolata»

Fátima é extraordinário património espiritual dos Cristãos, particularmente dos Cristãos Portugueses conquistados pelo amor da Senhorinha Mãe.

É baluarte do amor que afirma, aos quatro ventos, que a “Paz” é possível. É garante de que com Deus, a Paz está sempre mais próxima…em qualquer circunstância!

É grande tema de meditação para os portugueses e para todo o Mundo.

Para os Portugueses continua a ser a grande “graça”, mercê da qual Portugal não entraria na terrível contenda que foi a “Segunda Guerra Mundial”.

“Os Três Pastorinhos” 

  «A mãe» e os Pastorinhos de «Fátima»
                                                                 

Os Três Pastorinhos

  

Dos três Pastorinhos de Fátima, a mais velha era a Lúcia, prima dos outros Videntes e irmãos, Jacinta e Francisco.
Os Videntes nasceram e viviam com suas famílias no lugar de Aljustrel; aldeia da freguesia de Fátima, junto aos Valinhos, quem vai do Santuário pelo “Caminho da Via-Sacra”.
Os três videntes nascidos e criados com outras crianças familiares ou vizinhas, brincavam juntos, nos intervalos das idas á Igreja, em inocentes folguedos infantis. Mais tarde passavam muito tempo, na Cova da Iria, onde fica hoje o Santuário, vigiando magros rebanhos de ovelhas que pasciam por leiras dispersas por agrestes montados de sobreiros, azinheiras e outras espécies com algum interesse para a pastorícia. Enquanto o gado pastava, os pequenos pastores, iam rezando o Têrço.
Lúcia, que contava dez anos, era enérgica, responsável, decidida e bem ancorada nos fundamentos da fé que professava em perfeita sintonia com familiares e vizinhos, fiéis rigorosos a hábitos cristãos ancestrais.

Na aldeia de Aljustrel, residiam de há longa data, várias famílias, algumas aparentadas; era Povo temente de Deus e muito humilde; Viviam dos parcos recursos que lhes proporcionavam pequenas leiras, de propriedades familiares, antigas.
Era gente do campo que respeitava os mesmos princípios religiosos; Praticava franca entreajuda e vivia de parcos recursos económicos.
Era gente humilde que, depois da ceia, rezava sempre o terço. Durante o dia aproveitava todos os momentos livres para rezar.
Foi essa a educação que Lúcia recebeu e que em tudo era semelhante à educação primos, os irmãos Francisco e Jacinta.
Toda a vizinhança de Aljustrel era gente boa, bem formada, gente de Missa, trabalhadeira e económica, muito ao jeito dos tempos que corriam.
As Aparições de Fátima representaram acontecimento excepcional, para a nação portuguesa e para o Catolicismo, com grande reflexo no conturbado primeiro quartel do século XX e daí para cá.
É acontecimento largamente salientado pelo Povo agradecido, que lhe atribuíu a grande graça de termos conservado imunes aos efeitos demolidores, da “Segunda Guerra Mundial”.
Quando ocorreram as Aparições os videntes eram muito novos:
Irmã Lúcia” contava dez anos.
Francisco ia em nove.
Jacintinha, contava sete anos e dois meses.
A Irmã Lúcia
- A Irmã Lúcia (n. 22-03-1907 – f. 13 – 02 – 2005, Coimbra)
Lúcia, sob muitos aspectos foi a mais saliente dos videntes.
Assistiu a todas as Aparições em Fátima, excepto a duas, em que Jacinta foi contemplada quando já muito doente.
Lúcia, além destas, foi contemplada com Aparições pessoais que ocorreram nas Ordens Religiosas onde permanecera.
Com os primos foi vítima de prisão e ameaças, em Ourém e de interrogatórios capciosos e cerrados, tendenciosos e de incompreensões que feriam. Participou na horrível visão do Inferno.
Foi a única Vidente a quem foi confiado o famoso “Segredo de Fátima”.
Era Lúcia, ainda criança era amiga das amigas que a procuravam. Juntavam-se à sua volta para brincar ou para a acompanhar nas idas à Igreja. Mais tarde acompanhavam-na no pastoreio dos rebanhos pela Serra.
Gostava de cantar quanto ouvia pela Igreja e as “modinhas” populares do seu tempo!
Na sua humildade apresentava-se como:
«- Sou uma pobre pastora. Rezo sempre a Maria!»
Por conselho de Nossa Senhora e de D. José Correia da Silva, 1º Bispo da Diocese Restaurada de Leiria, a Vidente foi encorajada a aprender a ler. Depois da Aparição de Outubro de 1917, obedecendo ao aconselhado, Lúcia passou a frequentar a Escola.
O que lhe permitiu que o P. Luís Kondor levasse à forma de livro, sob o título «Memórias de Irmã Lúcia», pormenorizados escritos que deixou preenchidos com recordações sobre as Aparições.
Este trabalho importantíssimo «Memórias de Irmã Lúcia» que seguimos, obrigá-la-ia a grande esforço de memória e a consultar os primos, sempre que teve necessidade de aclarar dúvidas.
A jovem Lúcia foi a única que viu, ouviu e falou com Nossa Senhora durante as Aparições, e noutras que mais tarde ocorreram pelas Ordens Religiosas a que pertenceu.
Era a mais nova de sete irmãs.
Como acontecera com os primos sofreu muito por causa das Aparições.
Depois da Aparição de Outubro e dos perigos a que estaria exposta muitos pensavam protege-la. Esta foi uma das primeiras resoluções de D. José, que decidiu pela frequência em colégio.
Aos catorze anos Lúcia entrou par o Colégio de Vilar, no Porto e aí recebeu sólida educação moral e religiosa.
Era dotada de “Grande talento”, “Boa memória”; Era “calma”, “muito digna”, ponderada e muito considerada” o que a ajudaria a adquirir excelente formação.
Antes de entrar no colégio já lhe tinha ocorrido “consagrar-se a Deus pela vida conventual”. O que agora viria a acontecer no Colégio de Vilar da «Ordem carmelitana». Depois por influência das formadoras transferiu-se para as Doroteias Portuguesas (1921/25).
Contava 18 anos quando foi iniciar o noviciado em Tuy.
As Doroteias tinham Casa em Pontevedra e para lá seguiu (1925) para iniciar o Postulantado, seguido da imposição do hábito em 2 de Outubro de 1926.
Seis anos depois voltou à Casa de Pontevedra e lá esteve até 1946.
Certo dia foi levada a Fátima, à Cova da Iria e a Aljustrel, em rápida visita, para recordar o passado.
Regressada ao Porto foi colocada na Casa do Sardão em Vila Nova de Gaia, de onde obteve do Papa autorização para integrar o «Carmelo de Santa Teresa» em Coimbra, praticando ali o “retiro” e a “solidão” que ambicionava.
Lúcia ao escrever seus “inspirados” registos era assistida por Deus.
Entretanto definiria o sentido que atribuiu à palavra “inspirada”:
«- Escrevi “inspirada”, por sentir que devia dizer, aquilo que tinha dentro de mim!»
Sentimos que sabia expor com clareza. «Lúcia mostrou saber dizer o que queria e como queria!»
Denota alguma insegurança quanto a datas mas, nem ela nem os primos, muito pequenos, dominavam a contagem “dos dias da semana”, ou “dos meses”… de tão novos.
Graças ao seu trabalho há hoje apreciável quantidade de informação segura e preciosa sobre as Aparições.
Um dia certo Padre deu-lhe este concelho:
«- O segredo da filha do Rei deve permanecer oculto em seu coração?»
- !
«- Fazeis Bem em guardar para Deus e para vós, os segredos das vossas almas!»
Não nos dizem os Santos Evangelhos que a santíssima Mãe guardava as coisas em seu Coração?
Os pastorinhos também procuravam guardar segredos para si e para os seus.

A Prece da Jacinta

 

Ó tu que a terra
Passas-te voando
Jacinta querida,
Numa dor intensa.
Jesus amando,
Não esqueças a prece
Que eu te pedia.
Sê minha amiga
Junto do trono
Da virgem Maria.
Lírio de candura
Pérola brilhante
Oh! Lá no Céu
Onde vives triunfante,
Serafim de amor,
Com teu irmãozinho
Roga por mim
Aos Pés do Senhor.

Irmã Lúcia
«- Antes das ocorrências de 1917, era o laço de parentesco que me unia a Jacinta, e nenhum outro afecto particular, me fazia preferir a companhia de Jacinta e de Francisco, à de qualquer outra criança.» Palavras de Lúcia.
- Jacinta era melindrosa e, durante os folguedos podia ficar amuada. Escolhia os companheiros com quem brincar. Mandava que ficassem sentados no bordo do poço tampado com lajes e protegido pela sombra de árvores que tínhamos ao fundo do quintal.”
«- Três grandes figueiras guardavam do Sol do pátio onde brincávamos. Por vezes “jogávamos a botões”. Quando o jogo esgotava a provisão de botões, tirávamos os botões à roupa.»
Lúcia via-se por vezes em grandes aflições! Quando chamavam para comer e me encontrava sem botões na roupa; Era preciso pregá-los à pressa!
«- Quando Jacinta vinha com o irmão chamar-me para brincar, dizia-lhe que não podia:
«- Minha Mãe tinha-me mandado que estivesse ali!

Francisco
Francisco (n.11-06-1908 - f. -04-04-1919 - Aljustrel)

Francisco, com Lúcia e Jacinta, como companheiros de infância e pastores, estiveram presentes nas Aparições do Anjo e nas de Nossa Senhora em Fátima. Os três participaram na visão do Inferno.

Enquanto as ovelhas pastavam Francisco empenhava-se na construção de “casinhas” feitas com muros de pedra. Eram miniaturas que idealizava e construía com pedrinhas que encontrava pelo monte.
Dai dizerem-lhe que iria ser “arquitecto”.
Era muito “reservado”. Lúcia escreve sobre os primos com emoção:
«- Francisco “era um velhinho!»
Partilhava do mesmo modo de ser de Jacinta.
Eram iguais no modo se ser… E em tudo!
Francisco foi o primeiro a falecer.

Jacinta
(n. -11-03-1910 f.– 02-02-1920, Lisboa)

Jacinta estive presente às Aparições do Anjo e às de Nossa Senhora. As duas últimas Aparições foram de Nossa Senhora foram particulares e em Aljustrel. Jacinta estava já muito mal.
Participou com os outros Videntes na visão do Inferno.

A Sensibilidade
Jacinta, à noitinha gostava de ver o “por do Sol”, da nossa eira: Gostava de ver as cores do Céu depois que o Sol se punha. O ” Céu” cobria-se de estrelas. Ela encantava-se; Gostava de ver as estrelas.
Possuía uma alma extraordinariamente sensível. Foi sempre obediente, “mansinha” mas, mostrou-se muito firme na defesa das afirmações anteriormente proferidas sobre as aparições.
Os inquiridores foram sempre vencidos pela firmeza dela.

Meditação de Jacinta
Chegados à pastagem, Jacinta, por vezes sentava-se numa pedra e ficava pensativa.
- Jacinta!… anda brincar!
«- Hoje não quero brincar. Estou a pensar…
- Aquela Senhora disse-nos para rezarmos o Terço e fazermos penitência. Disse-nos que muitas almas iam para o inferno.
- O que é o inferno?»
- É uma cova cheia de bichos! (Lúcia)
- Jacinta era notada por levar a peito a conversão dos pecadores. (Lúcia)
O bom coração
Quando íamos com as ovelhas para o pasto passamos por uns pobrezinhos e Jacinta logo aproveitou:
«- Damos a nossa merenda àqueles pobrezinhos, pela conversão dos pecadores?»
E correu a levar-lhes a sua merenda! Daí em diante, quando passávamos por eles, oferecia-lhes sempre a merenda que levávamos para aquela tarde.

Lições de doutrina

A irmã de Lúcia era zeladora e dava lições de doutrina em casa nas horas de cesta e recomendava:
- Não quero ficar envergonhada quando o Senhor Prior vos perguntar a doutrina!
Ela era exigente. Mas Jacinta, e todas as crianças, lá estavam a horas, para a lição.

O Menino Jesus escondido
«- Como é que tanta gente recebe ao mesmo tempo o Menino Jesus escondido (em forma de Hóstia). É um bocadinho para cada um?»
- Não vez que são muitas Hóstias e que em cada uma está o Menino escondido!
O rápido e certeiro raciocínio da Jacinta obrigava, na emergência a respostas prontas que nem sempre ocorriam com a precisão desejada.
- Quantos disparates terei dito? (confessava Lúcia)

O Terço rezado
Quando os novos pastorinhos puderam tornar-se responsáveis pelos rebanhos recomendaram-lhes que depois da merenda rezassem o Terço.
Eles cumpriram a ordem mas, passados os primeiros dias tinham observado que rezar o Terço lhes “ocupava” muito tempo de brincadeira.
Então pensaram adoptar um modo de “passar as contas”, menos demorado.
Passavam as Avé Maria de cada Mistério a dizer: “Avé Maria… Avé Maria… Avé Maria”… Quando chegavam ao Pai Nosso diziam muito de vagar: “P a i… N o s s o… ” e logo continuavam com as Avé Maria… Avé Maria… Avé Maria... E num abrir e fechar de olhos o Terço estava rezado!

No meio do rebanho
Jacinta gostava de apanhar um cordeirinho branco, ainda pequeno, e de o trazer ao colo para casa.
Um dia, meteu-se no meio do rebanho com o cordeirinho ao colo.
- Para quê no meio do rebanho, e com o cordeiro ao colo?
- É para fazer como Nosso Senhor… naquele santinho que me deram!»

Na cadeia de Ourém
Quando viram como eram rudes os interrogatórios, e que nada mais lhes restaria senão sofrer a prisão; resolveram que rezariam o Terço enquanto por lá estivessem.
Francisco, levantando as mãozinhas e os olhos para o Céu, logo fez o oferecimento:
- Ofereçamos o nosso sofrimento pelo Santo Padre e pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.
Depois juntaram-nos numa sala e foram-se, dizendo que daí a pouco nos vinham buscar para “fritar”!
Dissera então:
«- Vamos morrer sem voltar a ver os nossos pais!» (Jacinta)
- Então já não queres a conversão dos pecadores? Perguntou Lúcia:
«- Quero ; Quero!» E fez ela o oferecimento:
«- Ó meu Jesus, é por Vosso amor e Imaculado Coração de Maria, pelo Santo Padre e pelos pecadores!»
Então os presos quiseram consolar-nos.
- Mas digam ao senhor Administrador esse segredo! Que lhes importa que a Senhora queira ou não queira.
«- Isso não! Antes disso quero morrer!» Disseram todos.

O Terço na prisão
Não vendo modo de se livrar do Administrador, prepararam-se para aproveitar o tempo com a reza do Terço.
Então Jacinta tirou uma medalha que trazia ao pescoço e pediu a um preso que lha pendurasse na parede. De joelhos, diante da medalha iniciaram o Terço; os presos de joelhos acompanharam os pastorinhos!
- Se não sabiam rezar, pelo menos estiveram de joelhos connosco!
Terminado o Terço Jacinta voltou para junto da janela… chorava comovida.
«- Ofereço o Terço por todos… Porque gosto muito de todos!»

Afeição pelo baile
A fama das Aparições fez aumentar o movimento em Fátima, o que fez com que aparecesse por lá quem tocasse harmónica, o que deu em bailarico.
Um dia Jacinta foi o par de um pobre e, ladrão. Ela de tão pequenina acabou o baile ao colo dele.
Era tão sensível que bastava ouvir os pastores tocar, mesmo ao longe e já ela começava a dançar, ainda que sozinha.
Um dia quando se aproximava o São João ou o Carnaval, disse-me:
«- Já não bailo mais»
- Então porquê?
«- Porque quero oferecer este sacrifício a Nosso Senhor!»



II Depois das Aparições
A “Loca do Cabeço”
Quando apareciam pessoas de fora queriam sempre ouvir os Pastorinhos.
A mãe de Jacinta estava continuamente a mandar chamar os filhos ao monte, onde pastoreavam as ovelhas; Isso significava deixar aquilo que estava a fazer e “arranjar alguém que os fosse chamar”. O trabalho não lhe rendia!
Então entregou o pastoreio ao filho João, irmão de Jacinta e ela passaria a ficar mais por casa.
Custou-lhe muito resignar-se a esta ordem.
Passaram a tentar ocultar-se do Povo e continuamente se refugiavam na “caverna do rochedo” que fica num monte em frente às nossas casas.
Chamávamos-lhes “Loca do Cabeço”, porque ali havia um abrigo tão bem feito que resguardava perfeitamente da chuva, dos ventos e do Sol.
- Quantas orações ali ofereceram ao nosso bom Deus!»

O incomodo dos interrogatórios.
Era contínua a chegada de pessoas que queriam falar com os pastorinhos e com a mãe, que era tia da Lúcia. Ela tinha de arranjar alguém que os fosse chamar.
A Jacinta gostava de ir ver o Santíssimo durante o recreio, mas logo a vinham chamar!
«- Parece que adivinham!»
Aquela gentinha, que vinda das aldeias não nos deixava. E falavam-nos das suas necessidades e aflições. Se se tratava de algum pecador Jacinta dizia:
«- Temos de rezar e oferecer sacrifícios! Não vá ele para o inferno!»
Depois começou a fugir das pessoas. Tantas eram que não a deixavam.

Os interrogatórios.
Durante muito tempo sofreram numerosas “investidas” de pessoas movidas por segundas intenções que a todo a custo queriam levá-los a desdizer-se. Eram pessoas estranhas que, com grande insistência, depararam com a tenacidade exemplar dos Pastorinhos e tão grande foi que:
«- Nem sei dizer quem seria o maior defensor das Aparições.»
Depois que a dúvida começou a desvanecer-se; A mãe de Lúcia confessou a sua grande insistência; a ponto de dizer que, “Era com medo de cair no ridículo”:
- “Foram os de casa quem mais insistiu com os Videntes para que desdissessem”. (confessou)

O Santo Padre Cruz
O senhor Dr. Cruz veio de Lisboa para ouvir os pastorinhos. Depois, em Aljustrel, quis ver a Cova da Iria e nós fomo-lo acompanhar.
Nós íamos a pé e ele montado num jerico mas, o jerico era tão pequeno que por pouco, o Santo Homem arrastava os pés pelo chão. De uma vez disse-me.
«- Gosto tanto de Nosso Senhor e de Nossa Senhora que nunca me canso de lhes dizer que os amo.»

Graças alcançadas pela Jacinta
Uma vizinha insultava os Pastorinhos sempre que os via.
Vimo-la um dia numa taberna e ela, como já não estava em si, insultou-nos.
A Jacinta disse-me:
«- Temos de oferecer sacrifícios a Nossa Senhora por esta mulher.»
Um dia passamos em frente da porta dessa mulher e deitamos a correr. Jacinta parou e perguntou-me:
«- É amanhã que vamos ver aquela Senhora?
- É!
«- Então não brinquemos mais e ofereçamos o sacrifício pela conversão dos pecadores.»
A partir daí a mulher deixou as apoquentar. Um dia encontrou-os e ajoelhou-se aos pés de Jacinta a chorar.
A Jacinta pegou-a pela mão e ajudou-a a levantar.


III Doença e morte de Jacinta

Lúcia procurou recordar a vida de Jacinta perante o Bispo, D. José.

«- Peço-lhe um favor! É que se publicar alguma coisa das que acabo de contar, de modo algum fale da minha pessoa.»
É que se eu soubesse que Vª Reverendíssima tivesse queimado este escrito, sem sequer o ler; Teria nisso muito gosto, pois que o escrevi para obedecer à vontade do Nosso Deus.


Os últimos dias, em casa
Pelas fotos se nota que Jacinta era a mais nova dos videntes e muito débil.
Era muito meiga, introvertida, atenta e de saliente rectidão; O que levaria a que Lúcia se lhe afeiçoasse e a tomasse sob protecção. Lúcia nutria por ela inegável admiração.
No conjunto das Aparições, os apontamentos de Lúcia, dão a Jacinta lugar muitíssimo destacado.

Passou os últimos dias de Aljustrel sentada na cama do irmãozinho que viria a falecer antes dela. Já muito doentinha, mereceu, por duas vezes, ter sido visitada por Nossa Senhora.
Foi vítima da “pneumónica”, falecendo depois do Francisco.
Muito doente nunca deixou de se interessar pelos grandes problemas do Homem que são o motivo das Aparições.
Os últimos tempos de infância foram dedicados “Aos pecadores”, “à Igreja”, “ao Santo Padre”, “ao clero”, “à fome e à guerra”, etc. É admirável que uma criança de dez anos se tenha interessado de modo tão profundo e decisivo, por assuntos candentes que continuam a “alheios” aos adultos.

"As Aparições do Anjo”


«A mãe» e os Pastorinhos de «Fátima»

As Aparições




1ª Aparição do Anjo

A primeira aparição do Anjo:
«- Parece-me que foi no Verão de 1915, entre os meses de Abril e Outubro. Foi quando viram apenas uma nuvem transparente que aparentava vagos contornos humanos.» (Lúcia)
«- Não temais! Eu sou o Anjo da Paz!»
«- O Anjo da Paz, «ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão!»
Ensinara-lhes a famosa “Oração do Anjo”, que assim ficaria conhecida, e deviam repetir três vezes.

«- Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo. Peço-vos perdão
para os que não crêem, não adoram, não esperam e não vos
amam!»

2ª Aparição do Anjo

A segunda aparição ocorreu pelo pino do Verão de 1916. Foi “junto ao poço” da casa. Foi em Aljustrel que o Anjo se deixou ver. Desta vez aparentava contornos mais visíveis. No instante seguinte e num gesto de familiaridade acercou-se dos videntes.
3ª Aparição do Anjo
         «- Quando o Anjo apareceu pela terceira vez, seria em Outubro, ou fins de Setembro.»
Lúcia teria 8 ou 9 anos. O Anjo trazia nas mãos um cálice encimado pela Hóstia que derramava sangue sobre o cálice; O cálice tinha ficado suspenso no espaço.
Depois, retomando o cálix:
- Deu-me a Hóstia!
Aquilo que estava no cálice (O Sangue que gotejava da Hóstia) deu-o ao Francisco e à Jacinta.»

4ª e 5ª Aparições do Anjo
Em dias seguintes a estranha figura branca do Anjo voltou a aparecer mas, a Irmã Lúcia já não saberia pormenorizar!

“Aparições de Nossa Senhora”

 
«A mãe» e os Pastorinhos de «Fátima»

«- Era Uma Senhora Mais Brilhante que o Sol»



1ª Aparição
13 de Maio de 1917
Era Domingo e mês das flores!
Antes de soltar o gado os três pastorinhos ouviram Missa em Fátima, depois receberam em casa sua merenda e foram com o gado para a Cova da Iria, como necessidade para sustento dos minúsculos rebanhos.
Já com o gado a pastar «repicaram em Fátima os sinos chamando para a Missa do meio-dia e foi quando notaram “o clarão rápido de um relâmpago”, seguido de outro mais forte e mais intenso. Os pastorinhos sem se aperceber da origem dos relâmpagos caminharam, talvez, na direcção de casa.
Foi então que notaram “a visão” sobre a copa de uma pequena azinheira…
«- Era uma Senhora vestida de branco, e mais brilhante que o Sol.» Descreve a Lúcia.

«- Não tenhais medo Eu não vos faço mal.» Disse a Senhora e mais recomendaria:
- Rezai o terço todos os dias para alcançar Paz para o mundo e o fim da guerra.»

Ai que Senhora tão bonita! Dizia a Jacinta.
- Era uma mulherzinha muito bonita!
- E o que é que essa mulherzinha vos disse?
- Que fossemos seis meses seguidos à Cova da Iria, e que então nos diria quem era, e o que queria!

A par dos efeitos das visões no povo, muitos inquiridores desenvolveram esforços no sentido de levar as crianças a decair, a confessar que “mentiam” mas, elas mantiveram-se sempre firmes e o tempo demoveu os incrédulos.



2ª Aparição
13 de Junho de 1917
Cinquenta pessoas acorreram à segunda visita da Senhora à Cova da Iria, a 13 de Junho conforme estava marcado. Aquelas presenças mostram que havia pessoas que estavam animadas em dar crédito aos videntes. Uma delas se tornaria conhecida por “Senhora Maria da Capelinha”, por ter guardado as primeiras ofertas para a construção de uma Capelinha.
Na véspera do dia treze, em Fátima, já se notava certo frenesim e muita curiosidade por tudo quanto viria acontecer.
Era dia de Santo António e foram muitos os que dispensaram a festa para estar na Cova da Iria.
«- Quero que venhais aqui no dia treze do mês que vem e que rezeis o Terço intercalando esta jaculatória entre os Mistérios:
- Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno; Levai as almas para o céu, especialmente as mais abandonadas!»



3ª Aparição
13 de Julho de 1917
Depois de um tempo de espera, Lúcia pede aos presentes:
- Fechem os chapéus! Fechem os chapéus (de chuva) que já aí vem Nossa Senhora.
- Eu, por mais que olhasse, nada via. Afirmei melhor o olhar e vi assim a modo de uma nuvenzinha acinzentada que pairava sobre a azinheira. O Sol “enturviscou-se” e começou a correr uma aragem tão fresquinha que consolava.
Nesta aparição Nossa Senhora falou-lhes de um segredo disse que a 13 de Outubro o revelaria. 

O povo deixou-se encantar pela “Senhora” aparecida em Fátima e, fiéis ou simples curiosos afluíam, em maior número e mantinham-se ao lado dos Pastorinhos, durante as aparições.
A simplicidade em que as Aparições periodicamente ocorriam foi modo importante de mostrar como Nossa Senhora estava mais atenta aos carecidos que a exuberância dos ricos.



4ª Aparição

19 de Agosto
(A aparição anunciada para 13 de Agosto não se realizaria. Os videntes, por ordem do Administrador de Vila Nova de Ourém, tinham sido presos e levados para a Vila.)

A visita da Senhora tinha sido transferida para o domingo seguinte, 19 de Agosto, em Aljustrel, que fica mais próximo das moradas dos Videntes.
Depois que os Pastorinhos chegarem de Ourém, eram aproximadamente quatro horas da tarde. Andavam nos Valinhos com as ovelhas quando Lúcia notou os primeiros fenómenos que habitualmente precediam as Aparições.
Um súbito refrescar da temperatura e um desmaiar do Sol, e os relâmpagos… denunciavam, para breve a Aparição, como acontecera na Cova da Iria. Mas só os privilegiados Videntes puderam ver Nossa Senhora!

- Que é que vossemecê me quer?» Perguntou a Lúcia.
«- Que continuem a rezar o Terço a Nossa Senhora do Rosário, todos os dias, para alcançar o fim da guerra.»



5ª Aparição

13 de Setembro
«- Rezem sempre o Terço para alcançar o fim da guerra.»
Falavam da Primeira Guerra Mundial que, pelo ano de 1917, continuava implacável.

Os portugueses eram cada vez mais chamados às “fileiras” da Normandia.

Era com ansiedade que o Povo aguardava a aparição de 13 de Setembro. Tinha confiado os seus pedidos a Nossa Senhora, por intercepção dos Pastorinhos e aguardava resultados.

Pediam Milagres:
«- O regresso dos filhos!»
O dia 12 de Setembro foi de grande afluência de povo à Cova da Iria, e as casas dos videntes estavam atravancadas de gente que queria saber pormenores dos milagrosos acontecimentos.
«- Em Outubro virei com S. José e com o Menino Jesus para dar a Paz ao mundo.»
- Que é que quer Vossemecê, que façamos ao dinheiro das ofertas?
«- Façam dois andores. Um leva-lo tu com a Jacinta e mais duas meninas, vestidas de branco; o outro leva-o o Francisco com mais três meninos, com opas brancas…
- No próximo dia 13 de Outubro farei um milagre para que todos acreditem!»



6ª Aparição
13 de Outubro de 1917
- Já no dia 12 era aqui povo que Deus me livre!
- A visão, como o habitual, ocorrera pelo meio-dia.»
- Não tenha medo minha mãe. Nada de mal nos acontecerá! (Lúcia)
- Quanto se aproximava o dia 13 de Outubro, mais nós insistíamos com a Lúcia. Dizia a mãe:
- Era bem que ela não andasse com aquelas teimas.
A mãe era quem mais a castigava.

Poucos dias antes do dia de 13 de Outubro apareceu por lá um Padre com seu paroquiano. Vinham ver se os pequenos se desdiziam.
- Ouve lá menina vais dizer-me que tudo isso são histórias e bruxarias! Se tu não o dizes digo-o eu e mando-o dizer por toda a parte. Todos acreditam em mim. Vem todos por aí abaixo a destruir tudo! É claro vocês também não escapam.

- Isto não é outra coisa senão bruxedo!
Disse o paroquiano.
- O mesmo se dava com uma criada lá em casa… Quando se lhe metia uma coisa na cabeça não havia ninguém que lha tirasse.

No dia 13 Lúcia fizera a escolha da pastagem para o gado. Optou pela Cova da Iria, e para lá se dirigiram.

«- Eu sou a Senhora do Rosário!»
Nossa Senhora apareceu também sob as invocações de “Nossa Senhora das Dores” e de “Nossa Senhora do Carmo”.
- O Dr. Formigão é que foi a chave de tudo isto. Foi um grande homem!

- O povo ficava triste se soubesse o segredo?
- Ficava! (Francisco)



«- Não ofendam mais Nosso Senhor que já está muito ofendido!
- Quero dizer-te que façam aqui uma Capela em minha honra, que sou a Senhora do Rosário, e que continuem a rezar o Terço todos os dias.
- A guerra vai acabar e os militares irão em breve para as suas casas!»

- Lá vai ela! Lá vai ela! Era a senhora que se afastava!
Ia terminar a visão! Nossa Senhora retirava-se!
- Olhem para o Sol!

Junto do Sol os circunstantes puderam ver a Sagrada Família: S. José, o Menino Jesus e Nossa Senhora sob as invocações de “Nossa Senhora das Dores” e de “Nossa Senhora do Carmo”!
A Senhora mais resplandecente que o Sol terminava as Aparições.
Este Milagre de 13 de Outubro foi concluído e celebrizado pelo estupendo Milagre do Sol que foi visto por uma multidão que estava na Cova da Iria e por outras terras, próximas e distantes que se aperceberam do Milagre e deram notícia.

«- O Sol começou a “desandar” e a mexer! Parecia uma roda de fogo!»
Uma multidão de setenta mil pessoas, que estava em Fátima, vira o Milagre do Sol.
Tomara todas as cores do arco-íris; a atmosfera assumia todos os coloridos e cambiantes. As faces das pessoas ficaram amarelas! E todo o povo ajoelhara na lama!

O Milagre

Afonso Lopes Vieira, estando na sua casa de praia em São Pedro de Moel, também vira o Milagre do Sol!
Por aqueles dias os jornais de Lisboa, e outros, enchiam as páginas com notícias sobre os acontecimentos.

Estacionava á minha beira uma carruagem de luxo com uma senhora elegantemente vestida, acompanhada do filho, talvez universitário, do interior da carruagem acompanhavam o Milagre.
Estávamos próximos da carruagem, o Dr. Formigão e nós, pudemos ouvir:
- Meu filho, ainda tens dúvidas sobre a existência de Deus?
- Não, minha mãe!

Durante as exibições do Sol o Povo temera um desfecho trágico; Quando se persuadiu que o perigo tinha passado, irrompeu em estrondosa acção de graças:
- Milagre! Milagre! Bendita seja Nossa Senhora!

«- O povo estava maravilhado!»


“O segredo de Fátima”

 
«A mãe» e os Pastorinhos de «Fátima»

“O Segredo”

Nossa Senhora na aparição de Julho falou de um segredo e disse que o revelaria na aparição de Outubro.
Pareceu-me sentir que naqueles tempos, as coisas de Deus já o Homem as trazia muito esquecidas!



Esquecimento que é fruto da “vida moderna” preenchida de tantas “fantasias! que “ofuscam” a ideia de Deus; Que o afastam da nossa “visão”; Do nosso “pensamento”; E tantas são que retiram Deus do lugar que deve possuir no coração de cada Homem.
A Senhora mostrou atenção para com os pobres, os “inocentes” e os “iletrados”, que muitas carências continuam a sofrer.


Quando Lúcia escreveu os seus apontamentos, a Primeira e a Segunda Partes do Segredo, já tinham sido reveladas em Fátima.


Deus fez questão de criar o Homem “LIVRE” e não dependente como se fora “escravo.”
O Homem, que vinha das trevas ao acordar para a liberdade, como que em madrugada invernosa, depara com a Luz.
Tinha surgido à Luz “num dia de Sol radiante que o encandeara”; depois, ainda ofuscado, julgou-se Deus!
Esta claridade “ofuscou-lhe a memória”. Depressa se esqueceu da «escravatura» em que vivera, e esquecera-se de Quem lhe dera a Liberdade!
Esquecera-se de Deus! Quase que em definitivo”.
As Primeiras e Segunda Partes do Segredo de Fátima foram reveladas a Lúcia por Nossa Senhora numa versão apropriada à cultura e á idade dos Pastorinhos.
Quando a atenção do Homem é solicitada de novo para o “esquecimento”, a Divindade insiste em chamar a atenção para “graves deveres” que não devem ser esquecidos!
A grave situação de “esquecimento”, do Homem para com Deus levou Nossa Senhora a tornar-se, “medianeira”, para lembrar uma, e muitas vezes, que está em falta”.
A suavidade e delicadeza, que caracterizam as atitudes da Senhora, levaram-Na a dirigir-se ao Homem, através dos Pastorinhos, para que a penetração da mensagem surtisse maior efeito. Falou-lhes por meio de aparições e não directamente.
Falou aos “Pastorinhos por intermédio de Anjo. Só depois Nossa Senhora, durante seis visões e pouco mais, lhes falou directamente.
Na aparição de Outubro contemplou a Irmã Lúcia com o “segredo”.
Outro modo de comunicar da Senhora que foi assumindo um crescendo de delicadeza, alcançando elevadíssimo estrato na divina Arte de comunicar.


1ª Parte do Segredo

«- Sacrificai-vos pelos pecadores!»
- Dizei muitas vezes, em especial, quando fizerdes algum sacrifício:
- Ó Jesus seja por vosso amor e pela conversão dos pecadores e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.
- Se atenderdes ao meu pedido, a Rússia converter-se-á e tereis Paz! Senão espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições:


Os bons serão martirizados; O Santo Padre terá muito que sofrer; Várias nações serão aniquiladas. Por fim o meu Imaculado Coração triunfará.
O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de Paz.
- Por vosso amor «sacrificai-vos pelos pecadores e pela reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.»
Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da Fé.


2ª Parte do Segredo


                                      O inferno
A segunda parte do Segredo refere-se á visão do Inferno e Nossa Senhora mostrou-o. Era um grande “mar de fogo”
Mergulhados nesse fogo, os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes, negras ou bronzeadas com forma humana, flutuavam no incêndio levadas pelas chamas, pareciam cair como faúlhas sem peso nem equilíbrio.


- Muitos nem querem ouvir falar do inferno.
Jacinta sentada no chão, pensativa, dizia:
- Que pena eu tenho das almas que vão para o inferno! Pessoas vivas a arder como lenha!»
Ajoelhava-se, de mãos postas e ia dizendo:
- Meu Jesus! Perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno; levai as alminhas todas para o Céu, principalmente as que mais precisam.
De joelhos ficava assim muito tempo! Como que acordando de um sonho chamava por mim ou pelo Irmão.
- Francisco, Francisco! Vocês estão a rezar comigo? É preciso rezar muito para livrar as almas do inferno. Vão para lá tantas… tantas…
Por vezes perguntava:
- Porque é que Nossa Senhora não mostra o inferno aos pecadores?
- Se eles o vissem já não pecavam.»


Algumas pessoas, mesmo piedosas, não querem falar às crianças do inferno para não as assustar. - Mas, Deus não hesitou em mostrar o inferno a três crianças. Uma delas contava apenas seis anos.
Deus bem sabia se a visão seria prejudicial ou benéfica. Ele tinha avaliado sabiamente a inconveniência e todas as conveniências da visão, e não receou!

3ª Parte do Segredo 
 
os livros falam do Segredo de Fátima composto por três partes.
A Primeira e a Segunda Partes foram reveladas pela Irmã Lúcia, em particular aos primos e videntes.
A terceira Parte foi levada para os Arquivos do Vaticano e mais tarde trazida ao conhecimento público pelo falecido Papa, Beato João Paulo II.
«O Terceiro Segredo», “como também foi chamado”, decorre em estilo profético e mostra um homem vestido de branco que seria perseguido e feito vítima.
Na data em que foi revelado o segredo por S.S. João Paulo II foram muitos os que relacionaram o homem de branco com aquele Papa e com um dos atentados de que foi vítima.

Parece ser esta a versão aceite.
A leitura da “3ª Parte do segredo” parece ter sido escrita para confirmar as duas primeiras partes que tem ligação ao “tema forte e central da Igreja”, a “Redenção”, que continuamente insiste em “alertar” os pecadores.

Síntese:

1ª parte: Por meio de Milagres Deus sempre procurou a expansão da fé.
Em Fátima parece ter sido também visada a expansão do culto a Jesus e Sua Mãe, oferecendo como recompensa a conversão da Rússia e dos pecadores, como factores indispensáveis à Paz!
2ª parte: Nossa Senhora mostrando o inferno aos pastorinhos credibilizou as aparições e as suas próprias palavras perante os videntes; E as palavras dos videntes perante os pecadores.
3ª parte: A 3ª parte do Segredo expandiu, em todos os sentidos, o interesse dos Povos pelas Aparições e os pecadores alertados para os perigos que incorrem.
Resultando daí conselhos para que se insista na oração, em sacrifícios e em renúncias. A seu bem e a bem dos pecadores.


                           A coroa de Nossa Senhora


Esta coroa é a mais rica entre aquelas que foram dedicadas a Nossa Senhora do
Rosário de Fátima.
Por debaixo do globo azul, suspensa, pode ver-se a bala de 9 mm que foi disparada contra o falecido Papa, Beato João Paulo II na Praça de S. Pedro, em Roma.
Existia na coroa um orifício, por debaixo do globo azul. O projéctil sendo ali inserido fixou-se perfeitamente debaixo do dito globo e, a curta distância, visível.


Datas
De Aparições
particulares a Lúcia

1920- Fevereiro 20. Foi dinamitada a primeira Capelinha construída na Cova da Iria.
1923- Janeiro 13- A Irmã Lúcia estava já protegida e em segredo na “Casa de Vilar” no Porto.
1925 – A Irmã Lúcia ingressa no Convento das Doroteias, em TUY, Espanha, para iniciar “o noviciado”.
1925 – Dezembro 10 – Nossa Senhora aparece à Irmã Lúcia em Pontevedra. E pede-lhe que pratique a “devoção dos primeiros Sábados”.
1928 – Dá-se o lançamento da primeira pedra da Basílica da Cova da Iria.
1929 – Nossa Senhora apareceu à Irmã Lúcia, em Tuy.
1930 – O senhor Bispo de Leiria publica a carta pastoral que aprova o culto a Nossa Senhora, em Fátima.
1967 - Visita de Sua Santidade o Papa Paulo VI para a comemoração de 50 anos de Aparições.
1982 – João Paulo II visita Fátima em 12 e 13 de Maio.

Artigo elaborado com frequentes recursos aos livros:



                   - «Memórias da Irmã Lúcia»
Edição da Postulação Da Irmã Lúcia, Abril 1963


                  - «ERA UMA SENHORA MAIS BRILHANTE QUE O SOL»
P. João M. de Marchi I. M. C.

A Net também oferece na “wikipédia” abundante matéria sobre Fátima.