PADRE AMÉRICO


Deixemos que seja o Padre Américo falar.



Capítulo iniciado na pg ª - 7

«A primeira edição de dois mil exemplares esgotou-se em cinco semanas… »
« - De tantos outros, um postal lhe mandaram acerca deste livro, que dizia assim:
Coimbra, 14.04,941.

“Sou leitor dos seus trabalhos apostólicos a favor dos pobres deserdados da fortuna. Só Deus conhece bem os seus sacrifícios e benemerências e é Ele a sua recompensa. Não queira ceder à tentação. Não queira prejudicar a sua obra pensando que é o livro que tem em mente que o há-de imortalizar.
Trabalhe humilde e silenciosamente; imite as abelhinhas.
Editar o seu livro é dinheiro malbaratado. Melhor será gasto em socorros aos pobrezinhos mas… Faça como entender. (A. Fonseca)

“ Resposta de P. Américo”
«- O senhor Fonseca não me diz em que rua mora e eu concluo que temos o ramo numa porta e o vinho na outra.
Encontro-me à deriva e batido por opiniões desencontradas; felizmente que me animam e chegam a dizer «… você tem mercado garantido.» Dizem outros. Incentivos que vem em postais com moradas certas, sem ar de troça mas, mostrando desejo de ajudar o próximo.
O desabafo alivia na medida da sinceridade! Eu quero confessar-te que a causa impulsiva do livro foi conseguir receitas para ajudar a vida dos pobres, como o Senhor Fonseca deseja.
Eu escrevi um livro, quer dizer, pus em forma de livro aquilo que tem sido dito pelos jornais e que não lhe têm merecido reparo.
Ou será desperdiçar o semear para colher?»


Capítulo iniciado na pg ª - 10

Espantar-se da abundância de esmolas,
 é ignorar a força do Evangelho.

« - O mês de Maio, que costuma ser de flores neste cantinho do mundo, teve alguns dias sem elas, pelos caminhos que a gente pisa.
Ora houve no primeiro dia cinco alqueires de “farinha de milho”. Dia dois “aqui tem cem escudos” na rua e no mesmo sítio, “leve estes cinquenta, que a gente nunca o vê de graça e mais vinte escudos na rua, mais vinte numa Igreja; “ - Oh como há gente que deixa coisas tão boas”. No dia quatro cinquenta, mais cinco, mais mil trezentos e dois escudos por um sermão.
Como acabas-te de ver houve sim, dias faltosos em Maio mas, nem por isso me queixo.
Levantam-se clamores, debaixo dêste céu pardo, onde a morte ainda não caiu.
Néscio! Deus pode mudar a face das sementeiras, sem mudar o tempo!
Mas há sempre quem diga; «Olhe que as esmolas hão-de rarear este ano, que as coisas estão muito más!»
Mais, no Correio de Coimbra:
«- Publique o livro!
- A quantas bocas ele vai dar pão?
- Publique o livro!»


Capítulo iniciado na pª 12 4
E, se mais dias houvera,
 mais recebera.

«- O dia das maias saiu branco. No dia dois deram-me na rua vinte escudos. No dia seguinte, o dia do achado da Cruz do Senhor, cem escudos. Á Missa das onze e meia deslumbrei o auditório que acudiu comovido com mil quatrocentos e trinta e seis escudos.
…tome lá estes dez escudos, por não ter mais. Logo a seguir, de Ovar, uma colcha de damasco e mais quinhentos escudos. No dia dez, de cima do vetusto púlpito da Igreja, falou o Espírito Santo e a piedosa assistência respondeu com mil trezentos e cinquenta e sete escudos.
Uma visita á Casa do Gaiato com açúcar, arroz e farinha de milho.
Trinta e um, cem quilos de massa da terra dos tripeiros.
Tudo somado e bem apurado sobe a oito mil escudos.»


Capítulo iniciado na pª 127
Nada é impossível
aos homens de fé.
  (do Evangelho)

« - …acredito na sua promessa:
 -- Quando quiser é só avisar que o dinheiro lá vai ter. Palavra de Alentejano.
Eu acredito sinceramente na sua palavra, não que seja de um alentejano; se vamos a sublimar as províncias e a distinguir os homens, bem depressa acharemos que todos eles são parecidos no quarto de dormir e no caixão, iguais.

O que dá força e crédito à sua promessa é a situação actual e verdadeira desta família desprovida, onde há uma criancinha de braços abertos, que sem protestos nem clamor concita fatalmente os corações.»


Capítulo iniciado na pª 132
Tomar crianças assim
 é abrir o caminho do Céu.

« - Senhor alentejano chegou a maré de lhe pedir o dinheiro  da passagem para o nosso reumático que deve seguir par as Caldas da Rainha dentro de dias e eu para o Gerez.
… a Mãe do pequenino acaba de entrar no hospital …
Oh mundo infeliz ! Oh civilização derrancada que deixas cair no chão o teu semelhante!
O quarto é uma toca com luz de Sol-posto; desconforto de tudo, faz-nos arrepiar.. o berço é peça desconjuntada; “o pequenino”, flor amortecida.

Como não tenho azeite nem petróleo, disse, cuido que lhe dou a papa na boca e meto-lha nos ouvidos. – Isto seria uma grande comédia se não fora uma grande tragédia.
Que farias tu da criancinha se estivesses no meu lugar?
- !
«-  Pois eu fiz a mesma coisa.
- Tenho-a no meu quarto de dormir!»



Pequeno extracto do livro do Padre Américo

PÃO DOS POBRES
 «Do que vi em casa deles e como tratei seus filhos – Coimbra – 1943». 

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