segunda-feira, 23 de junho de 2014

São Francisco de Assis

Salvé 16 de Julho de 2014
Próximo Dia de São Francisco

Apontamento prévio
Com base na Enciclopédia Port/Brasileira. «Francisco»


Francisco levou na mocidade um vida de boémia, de dissipação, mas foi sempre muito amigo e preocupado com os pobres, até que pelo ano de 1202 se afastou da vida de dissipação que até aí levara, e afastou-se dos seus companheiros.
Passou a dedicar-se à oração e a uma rígida penitência de pobreza que imitava Cristo no Seu modo de viver, dia a dia.

O pai, ao ver as grandes esmolas que dava aos pobres e com os gastos que Francisco fazia na reconstrução da Igreja de São Damião, aflito, decidiu deserdá-lo.
Francisco no Tribuna, como resposta, despiu-se e entregou as roupas ao pai. Depois, por uns tempos viveu refugiado na mata do Monte Subásio.
Os três anos seguintes passou-os na maior pobreza, na leprosaria, a tratar leprosos.

Ide e ponde-vos a caminho e pregai dizendo:
«- Está próximo o Reino dos Céus. Curai os enfermos; ressuscitai os mortos; limpai os leprosos; expulsai os demónios; Aquilo que de graça o recebes-te, dai-o de graça.
Não queirais prata nem ouro nem dinheiro, nem duas túnicas, nem calçado.
O operário é digno do seu alimento.»

São Francisco é das mais ricas e solícitas figuras que passaram por este mundo, tal a fragante ternura que o rodeava.
Das características do seu espírito, Giotto celebrizou-o nos seus quadros famosos: «As sagradas núpcias com a Dama Pobreza», «A alegria» que viriam a constituir os suaves preceitos da sua Rega.
O encanto que a Natureza inteira inspirava-o, manifestando-se. depois pelos modos mais originais.
Francisco a todos tratava por Irmão: « A Irmã Lua; o Irmão Sol; o Irmão Vento; a Irmã Água, etc, e todos eram tratados assim, como modo de incentivar a perceção da maravilha do amor de Deus.
No fim da vida, cauterizando-se com um ferro em brasa, Francisco dirigiu-se ao Irmão fogo pedindo-lhe que «o tratasse com brandura» e lembrou-lhe que sempre o amara.
Francisco foi um místico, na maior aceção da palavra.
Foi um asceta que gastou o próprio corpo e a vida, nas mais duras privações, por amor a Cristo e Sua doutrina.

Os seus principais trabalhos foram redação e a revisão da «Regra», que regeria a «Ordem Terceira de São Francisco». Grande comunidade de pessoas que «sem abandonar o “mundo”, nem seu modo de ser se prontificavam a seguir os princípios da “vida franciscana».




Resumo breve de
O Poverello “S. FRANCISCO DE ASSIS” – do P. Fernando Félix Lopes
Editorial Franciscana - Braga


As “LEGENDAS”
A biografia de S. Francisco, por diversos tipos de registos, está muito documentada.
Entre os mais célebres registos sobressaem as “legendas” que, são muitas.
A partir delas muitos autores, em particular os que conviveram com o Santo, construíram valiosas e bem documentadas obras, sobre a vida do Santo de Assis.

As “Legendas” são escritos biográficos trabalhados por escritores franciscanos e outros, contemporâneos do Santo, a quem o Papa por intermédio dos Freires Elias e Tomás Celano recomendou, «que escrevessem apontamentos sobre “pormenores” da vida do Santo para que não fossem perdidos no esquecimento.

Estes pormenores escritos, foram enviados ao bispo de Assis e por ele protegidos; chamaram –lhes “legendas”, e fazem hoje parte valiosa da “Biblioteca de Assis”.

A Paixão dos “Cinco Santos Mártires de Marrocos” foi tratada numa “legenda”, escrita pelo Infante D. Pedro de Portugal e enviada para Assis.

«Naquele dia São Francisco andava zangado consigo mesmo.»
Chegara a notícia do acontecido com os Irmãos enviados a Marrocos pouco tempo antes. Atá aí poucas notícias tinha havido.
Mais tarde chegara a “legenda” e o Santo ficara muito triste ao Aperceber-se de que, se não fora a Legenda, em Assis, nem os nomes dos Santos Mártires saberiam. Ninguém tinha apontara os seus nomes! Houvera grave esquecimento!


São Francisco de Assis


I - Biografia
São Francisco nasceu em Assis por volta de 1181 ou 1182. Certezas não há.
A história do seu nascimento é curiosa pois passara o dia previsto para o nascimento, sem que o nascimento se verificasse! E isso várias vezes acontecera.
Por fim a aflição da mãe, D. Pica, levou-a a pensar no presépio de Belém e pediu que a descessem ao curral, e que a deitassem entre o boi, o jumento e a manjedoura para que Deus se lembrasse do seu parto e a ajudasse…
Assim fizeram e daí a pouco o “bambino” viu a luz.

Entretanto alguém bateu à porta. Era um pobre que pedia se o deixavam ver o menino e logo o pobre profetizou:
«- Este, “eleito por Deus”, será o homem dos meus encantos!»
Nesse dia o pai, Pedro Bernardote, andava por longe em negócios e madona sem demora mandou que o batizassem. Ficou a chamar-se João.
Mas o pai, sempre lhe chamara Francisco. E assim ficou.

Na escola, aprendeu a ler, doutrina, moral, retórica, latim, artes etc. O pai aguardava a vez de lhe ensinar “as artes e as manhas do negócio” que lhe enchia a casa de dinheiro e de fama.
Queria ver no filho um comerciante; queria um bom continuador para a casa, e não um doutor.
A casa dos pais de Francisco possuía um pequeno quartel de serventuários: profissionais da lavoura, do comércio, escudeiros e homens de armas para zelar pela segurança das pessoas e mercadorias em trânsito por caminhos infestados de malfeitores.
Assis era uma cidade relíquia, entalada entre montes; era pequena mas, aconchegada e activa.
Bernardote esperava o tempo em que pudesse ver o filho a aviar clientes.
Francisco era já apontado pelos comerciantes da praça de Assis e tão bom e capaz como o pai.

Em tempos livres, um rancho de rapazes” acompanhava-o sempre. Francisco era o “rei da festa” em brincadeiras que muitas vezes terminavam em serenata. Como poeta preparava-lhes “as poesias” e não faltava quem, à boa maneira italiana, juntasse à música, a voz e o “canto”.
Enquanto os rapazes de Assis se juntavam a Francisco, as meninas procuravam janelas para ouvir as serenatas. Quando havia algo a pagar das patuscadas, era tudo com ele. E corria bem!
Pedro Bernardote olhava de lado para a vida de “estroina” do filho.
O futuro que anteviam para o filho era tão diferente dos seus, que os trazia preocupados.
Uma ou outra vez, entre os pais, houve em particular compreensíveis lamentos:
«- A esbanjar assim… não sei onde isto vai parar?»
Afora isso nada havia que se lhe apontasse. Era um excelente rapaz.

Um dia Francisco, aviava fregueses, quando notou um mendigo que pedia esmola à porta.
«- Agora não tenho vagar!»
E no mesmo instante, apercebeu-se daquilo que realmente se passara. E pensou para si:
«- Que fizeste tu?
- Alguém que te pedisse em nome de um príncipe era atendido! Pediu-te em nome de Deus e… manda-lo embora!»
E largou a correr, rua abaixo atrás do pobre, e mete-lhe na mão a mais grossa moeda.

II - Sonhos De Cavaleiro
Francisco adoecera e, em delírio sentiu que alguém o levava a um grande castelo.
Era edifício muito belo e bem decorado. As paredes suportavam colecções de quadros, de armas e “apetrechos” de guerra ricos e belamente trabalhados.

Em Assis a Porta Nova ficava ali à mão; do outro lado o imponente Monte Subásio e a estrada de Folinho que Francisco tantas vezes a percorrera; Via-se o casario por entre verdejantes searas, vinhas e arvoredo.
Era região mística, piedosa e fonte de mártires! Francisco sempre ali se demorava a contemplar o quadro sedutor.
Entretanto convalesceu e retomou o seu trabalho na loja.

Godofredo, conde de Briene, descera de França com nutrido cortejo de guerreiros, declarando-se às ordens do Papa e pronto para incorporar nova Cruzada.
Outros cavaleiros começaram a afluir. Na Apúlia podiam alistar-se nos vários exércitos.
O conde de Gentil, em 1005 alistava guerreiros para formar pequena hoste e Francisco fora aceite.
Procurou aprestar-se com armas ricas e luxos de grande Príncipe quando notara que a seu lado seguiria outro cavaleiro de vestes coçadas.

Francisco febril ainda… perguntou de quem era o castelo e a mesma voz respondeu:
«- Tudo isto é para ti e para os teus soldados.»
Madrugou. Delirara mas estava mais contente. Seria armado cavaleiro. Seguiria com a Cruzada para o Oriente. «- Ainda hei-de ser um grande príncipe!»
Meteu-se a caminho da Apúlia mas, febril recolheu ao leito.
A mesma voz pergunta-lhe qual o destino da jornada?
«- A Apúlia. Depois vou com a Cruzada para o Oriente.»
«- Diz-me lá Francisco:
«- Quem é que pode dar-te maior ventura? O senhor ou o servo? O rico ou o pobre?
Resposta:
«- O senhor…o rico.»
«- Então deixas o senhor para servir o criado? Volta para Assis e lá te será dito o que te importa cumprir.
De manhã desculpou-se com os companheiros e regressou a Assis.
A cidade inteira não escondia o espanto do inglório regresso e galhofava dele:
«- Deixem-no! Sonha com a noiva com quem quer casar!»
«- Acertas-te amigo! De facto sonho com receber esposa. Responde-lhes.
«- Pronto Senhor. Aqui estou para fazer a Vossa vontade.»

Mais uma vez a voz se faz ouvir:
«- Olha Francisco, se queres conhecer a tua vontade é necessário que a ti mesmo te desprezes; que aborreças quanto amas-te!»
Amargava-lhe a pobreza que é Cruz que humilha. “Cristo é Deus feito pobreza.” Havia de o educar até gostar de “Cristo pobre”.
No regresso a Assis redobrou de misericórdia para com os pobres. A misericórdia é o pão da esmola, o pão da amizade; o pão do convívio com o pobre.

A luta contra si já era compaixão feita piedade.
O homem se não chega a Homem é um comprimido de preguiças e coisas estéreis, preso por cobardias e egoísmos.
Francisco, em gestos de heroísmo, foi-se libertando de luxos e desejos.
Aprenderia a…
«Dar-se de esmola.»


III - O jogral de Deus
Decorria o ano de 1206. A velha ermida de S. Damião, tinha interior nu e pobre. Ao fundo, o altar era singelo; Uma tábua bizantina que mostrava Cristo de Braços caídos. Esquecidos e grandes olhos que procuravam olhos devotos.
«- Fazei Senhor que de tal modo vos conheça que sempre proceda segundo vossos mandamentos e vontade!
Francisco rezou e preparava-se para sair. De olhos cheios de lágrimas.
Do altar vinha uma voz que repetiu três vezes:
«- Francisco! Vai e repara a minha Igreja que, toda se arruína!
«- Pronto Senhor! Vou já!
As Chagas da Paixão gravavam-se em Francisco. Foi a casa e munindo-se de uns panos arrumados e foi vende-los a Folinho e, nem o cavalo escapou.
De volta encontrou o sacerdote da ermida e entregou-lhe o dinheiro para o restauro e para o azeite da lâmpada.
Foi a ordem que recebera do Crucifixo!
Dirigiu-se a Assis. Usaria a sua capacidade poética e cantaria pela cidade. A pequenina Igreja de S. Damião era merecedora de tudo e Francisco passou a cantarolar pelas ruas:
«- Eu sou o arauto do grande Rei!
«- Quem me der uma pedra, terá uma recompensa;
Quem me der duas terá duas recompensas;
E quem me der três,
Outras recompensas há-de ter!»
Houve quem mofasse e o tratasse de doido! Outros conheciam-no, comoviam-se e ajudavam.
O jogral de Deus pedia a cantar! Pedia pedras aparelhadas, derrubadas de ruínas… Quantas lhe deram! Carregava-as contente e levava-as para S. Damião.
Francisco virou pedras pesadas; serviu argamassa como “rapaz de trolha”.
Passava gente por lá e punha-se a olhar e Francisco dizia-lhes.
«- Vinde daí deitar uma mão. Só por um bocadinho!»
Alguns aceitavam e achavam graça, voltavam noutro dia.
Francisco subia aos andaimes para levar água ou argamassa, trabalhando para além das forças. O padre capelão notou isso e começou a dar-lhe mais carne. Ele apercebeu-se e agradeceu. Então pôs-se a falar consigo próprio:
«- Julgas tu Francisco que voltas a encontrar sacerdote que te trate com tanta caridade?»
«A tua mesa parece a mesa de um rico mas isto assim não vai bem!
«O pobre faz como os outros pobres!»
E de escudela na mão lá foi de porta em porta a “cantar e a esmolar” o sustento.
Escudela cheia, sentou-se para comer mas… tanta mistela que lhe “dera volta” e nada conseguia meter à boca.
«- O pobre faz como os outros pobres!» Dizia para si.»
E com gestos de violência, forçava. E de olhos fechados levava a escudela à boca e forçava “o manjar” pela goela abaixo… tinha de ser!
Aliviado e contente por mais uma vitória. O bocado soubera-lhe tão bem como o melhor manjar doutros tempos e vitorioso deu graças.
Em S. Damião encontrou o sacerdote que lhe tinha melhorado a dieta e disse-lhe que não se preocupasse com comida pois tinha mesa posta na cidade.

Restaurada S. Damião o Santo viu outras igrejas.
Reparou melhor a Igreja de S. Pedro e a capela da Porciúncula (que quer dizer: “eido”)
A Capela da Porciúncula fica no interior da basílica de Nossa Senhora dos Anjos.
No processo de canonização de Santa Clara de Assis ficou terna a lembrança dos dinheiros que mandava para que aqueles que trabalhavam em Santa Maria da Porciúncula tivessem vianda de carne na diária dieta alimentar.

E Francisco viveu assim dois anos a restaurar igrejas. As três capelas restauradas conquistaram para Francisco a simpatia de Assis.
Já ninguém lhe chamaria louco. Assis foi toda simpatia pela obra de Francisco.
Louco sim! Mas… loucura de Cristo!

IV - O Evangelho
é Jesus Vivo, a Falar
Decorria o dia 24 de Fevereiro de 1209 era dia da Festa de S. Matias. Descera um monge beneditino do Subásio para celebrar Missa e iniciou o Evangelho com cadenciada leitura.

« - Ide pois até às ovelhas tresmalhadas de Israel e pregai pelos caminhos:
- Está próximo o reino dos céus!
Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demónios: dai de graça o que de graça recebestes. Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nas vossas bolsas, nem alforge para a viagem, nem duas túnicas nem calçado nem bordão, pois quem trabalha tem direito ao sustento.
Quando entrares em qualquer cidade ou aldeia informai-vos de quem seja digno de vos hospedar, e com ele ficai até de novo vos meterdes ao caminho. E ao entrares nessa casa saudai dizendo:
- A paz seja nesta casa. E se aquela casa o merecer, nela entrará a vossa paz; e se não merecer, para voz tornará a Paz. E sucedendo não vos aceitar alguém em sua casa ou qualquer cidade não vos prestar ouvidos, ao deixar essa casa ou cidade sacudi o pó dos vossos pés. (Mt. 10, 6-14)»

Francisco assistira e, como sempre e estava muito atento, quando uma luz lhe iluminou o coração.
Aquilo era Jesus vivo a responder às súplicas que lhe vinha dirigindo, pensou consigo.
Tantas vezes lia o Evangelho e o ouvia ler. Lia-o e ouvia-o, todavia como história velha de muitos séculos que recontava as conversas com os discípulos e a sua pregação às gentes que acudiam a escutá-lo numa paisagem singela de encantos, numa atmosfera empoalhada de neblina em que lá atrás o tempo vai amortalhando as coisas. Mas andara errado, o Evangelho sentiu-o bem naquela hora – era Jesus vivo a falar aos Homens de todos os tempos, a todas as gerações; era Jesus a falar com ele.
Os Apóstolos escolhidos para levar até ao fim dos tempos a obra da redenção de Deus do crescer da sua Igreja, do Reino de Deus restaurado. O programa de vida e o programa do primeiro ensaio a que Jesus os mandou, o trecho evangélico que ouviste ler na Missa de hoje.
Francisco exclamou:
«- Entendi!
O Evangelho é Jesus vivo a falar comigo. Agora entendo qual a Igreja a que se referia o Cristo de S. Damião quando por três vezes me disse a repisar:

V - «- francisco!
Repara a minha Igreja»
Ei-lo agora ali em conversa. Sentiu a sua presença, ouviu as palavras que lhe disse. Nem dera por isso, mas os muitos dias passados a meditar a pesar o valor da vida pelas grutas solitárias, os carinhos e as esmolas com que consolara os pobres e leprosos, a pouco e pouco lhe haviam curado a cegueira da alma, alumiando-a para que pudesse ver: os dois anos passados diante do crucifixo de S. Damião e das outras ermidas enquanto passavam os dias canseirosamente nos trabalhos de reconstrução, haviam-lhe afinado o ouvido para que pudesse distinguir a voz de Jesus.
Finda a Missa pediu ao sacerdote que lhe explicasse o texto lido no Evangelho.
E o sacerdote tudo lhe explicou, frisando alguns pontos.


VI - Sermão dos olhos imodestos
Certo um rei mandou, um atrás do outro, dois emissários à rainha, sua esposa.
Voltou o primeiro com a resposta singela, que levara Seus olhos discretos e nada viram que contar. Veio também o outro.
Mal tinha dado a resposta ao recado, ei-lo que se abre em louvores à formosura da rainha.
«- Verdadeiramente senhor não pode haver no mundo mulher mais bela. Por feliz vos deveis ter, pois desposas-te a “própria formosura”.
«- Ó atrevido, atalhou o rei, tu ousas-te por os olhos na minha esposa? Olhos que apreciam são olhos que cobiçam.
E mandou chamar o primeiro para lhe perguntar como lhe parecera a rainha.
«- Muito bem senhor; em silêncio escutou o recado e depois discretamente desaparecera.
«- E não achas-te que era formosa?
«- Fui senhor, com um recado para haver resposta, e não fui apreciar formosuras!
E o rei deu logo a sentença:
«- Tu, servo de olhos castos, continuas ao meu serviço pois me dás a certeza de que também casto serás nas obras. Mas tu, de olhos imodestos… longe da minha casa! Nunca poderia descansar seguro com olhos de cobiça à minha beira!

VII – “Sorella Clara”
Não se sabe quando Francisco e Clara se viram pela primeira vez, mas ficaram unidos em santa comunhão de caridade. Amizade em que muitos viram, em Deus, a causa.

Clara” nasceu em Assis em 1199 quando o populacho obrigou os nobres insubmissos, a obedecer à comuna. Clara aprendeu com a insegurança, perguntando-se se não haveria algo de mais consistente a que consagrar a vida.
Ela reservava sempre algumas moedas para os mais pobres.
Foi então que viu que a vida deve ser sacrifício e caridade.
Viver deve ser bem-fazer! Clara, por debaixo dos luxuosos trajes trazia sempre cilícios que lhe lembravam as dores do próximo que devia aliviar. Dores que doem como doeram a Cristo, na Paixão que remiu os Homens!
Um bom casamento foi adiando por Clara; Ela queria traçar por si os seus destinos e não fossem outros a traça-los.
O perfume que da sua virtude cativava. O povo de Assis adorava-a e os nobres das redondezas sonhavam com o seu coração.

Um dia pregava o Poverello na Catedral de S. Rufino; seria pela Quaresma de 1212.
A mãe e Clara foram ouvir. Francisco produziu em ambas profunda comoção. Clara sentiu que se lhe esclareciam dúvidas e quis ouvir conselhos.
A amiga “Bona Guelfúccio” confessou que muitas vezes foi entregar aos operários a Santa Maria dos Anjos, algumas moedas para que pudessem comer carne.
Clara foi contagiada pela divina loucura!
“Bona Guelfúccio” diz:
«- “Eu mesma muitas vezes fui com Clara falar a S. Francisco e íamos às escondidas para não ser vista pelos pais.»
O Santo falava-lhe de Jesus dizendo-lhe que se convertesse toda a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Era Domingo de Palmas; o bispo Guido pontificou; Clara foi assistir.
À hora da distribuição das Palmas todos vieram ao encontro do bispo… que estava “por dentro do segredo” notou que, Clara comovida, não se aproximara, foi pela Igreja abaixo e entrega-lhe a Palma.

À noite todos dormem. Clara tinha escolhido esta hora para que não lhe tolhessem os planos.
Dirigiu-se a uma porta escura do palácio. Era «a porta dos mortos» que só se abria para sair os finados e por essa porta, na companhia de “Pacífica Guelfúccio”, deixou o palácio.

Ao outro dia, Clara não apareceu e viram aberta a «a porta dos mortos». Em casa dos Favarone houve sobressalto. Pela cidade correu notícia e conhecia-se o paradeiro.
Abandonar aquele palácio sumptuoso para viver a vida de «IL Poverello», era demais! A honra entre os Favarone era comum a toda a família que, de imediato, quis evitar a consumação do projecto.
Clara entrava em “S. Paulo de Bástia” quando, a galope chegou um magote de cavaleiros para repor, sem demora, a normalidade.
Clara corre pelo templo acima, até ao altar-mor e agarra-se às toalhas. Os cavaleiros já nada puderam fazer.
As toalhas do altar são sagradas e sagram quem a elas se apega. Tirar Clara dali pela força seria, sair dali excomungado. E ninguém lhe tocou!

Agora é Inês que aos quinze anos quer juntar-se a Clara.
As beneditinas de S. Paulo recearam; se Inês fugia para lá exasperaria a Paixão dos seus.
Clara, Fr.Francisco e Fr.Filipe, daí a dias passavam-se para mosteiro mais protegido; Para o mosteiro de S. Ângelo de Panzo nas fraldas do Subásio. Duas semanas depois Inês já estava com eles mas um tio com dose cavaleiros não tardaram em ir buscá-la.
«- Vale-me Sorella Clara. Não deixes que me roubem ao meu Senhor Jesus Cristo!»
Clara não sabia como enfrentar situação tão dolorosa e melindrosa, refugiou-se na cela a rezar.
E a ágil dúzia de cavaleiros começa a sentir Inês a cada instante mais pesada e tão pesada que parecia de chumbo. Monaldo intervém mas, tomando-lhe um braço sente-o coberto de ferro; agora é ele que se sente impotente e sem forças.
Em menos de um mês já estavam ambas em S. Damião, perto de Assis; O bispo Guido cedera-lhes a Capela que Francisco restaurara e a casa pobrezinha que lhe ficava encostada.
Agora é Beatriz, a mais nova das irmãs de Clara, depois é a sua mãe Hortolana, logo que viuvou e até a sobrinha Amata de Corcorano desabafou com a tia a sua felicidade:
- Ia casar daí a pouco com um rapaz rico e esbelto; a tia de tais coisas lhe falou que daí a dias voltava para vestir o hábito. E muitas nobres quiseram seguir Sorella; reunir-se à volta de Jesus que um dia pedira a Francisco que lhe reparasse a sua Igreja em ruínas.

Casario minúsculo que ainda se conserva como era; o pequeno coro e a sala onde se estendiam as enxergas para dormir; o refeitório e um oratório e o jardinzinho de vistas largas para o vale da Porciúncula.
Francisco quando estava em Assis, costumava visitar Clara muitas vezes para lhe dar as suas instruções.
Apesar dos desejos de Clara, comer uma só vez que fosse com Francisco, nunca ele lhe dera tal gosto. Um dia seus freires chamaram-lhe à atenção.
- Não nos perece conforme com a caridade. Porque não atendes à Irmã Clara, virgem tão santa e digna!
«- Parece-vos que a devo atender?
«- Como há tanto tempo vive reclusa em S. Damião, por certo gostará de voltar ao lugar onde veio fazer-se esposa de Jesus Cristo.
No dia combinado saiu Clara do seu mosteiro com outra da irmãs. Chegada a Santa Maria dos Anjos, foi saudar a Virgem onde o Poverello lhe cortara as tranças.
A mesa mandara Francisco, foi preparada sobre a terra nua e todos se sentaram em volta, bem assim Francisco, Clara a outra Irmã e os frades.
«- Francisco disse-lhe: Prepara-te, pode ser que necessite de ti para te enviar a algum mosteiro.
- Padre estou sempre pronta para ir, onde quer que me envies!
E Francisco começou por lhes falar de Deus, mas tão suavemente, tão maviosamente que apanhados pela divina Paz todos foram arrebatados pela abundância de graças de Deus.
Até à morte Francisco, dela e de todas tomou sempre todo o cuidado. E a última visita que fez a S. Damião, para dar a Soror Clara, o adeus da despedida já era morto e foi deitado no seu esquife!
Clara viveu ali durante quarenta anos em que foi modelo de pobreza. Mandara distribuir seu património aos pobres e as irmãs fizeram de igual modo!

Em Setembro 1240 os sarracenos passam por Assis e escalam os muros do mosteiro.
Clara, de cama levanta-se e manda que lhe tragam a custódia com o SS. Sacramento. Todas ajoelham:
«- Guarda Senhor este pequenino rebanho! Implora Clara e Jesus responde:
« - Sossega filha que sempre o guardarei! E os sarracenos debandaram; mas passado um ano “Vital de Anversa” vem sitiar Assis.
«- Muitos benefícios devemos à nossa Cidade, é tempo de lhos pagar.» Diz a Santa.
Jejum a pão e água sem mais nada e imploram a protecção de Deus! Ao outro dia “Vital de Anversa” retira.

Decorria 11 de Agosto de 1252, Clara está de cama a aguardar os últimos momentos. Trazem-lhe a Bula do Papa a aprovar a Regra e a Pobreza. Estão presentes três Frades de Francisco, que o representam… Francisco há muito tinha partido!
É a hora final que se aproxima e a alma já ensaia a partida!
«- Vai segura! Vai em Paz!
Tens bom guia à chegada!»

VIII - SÃO FRANCISCO
E A OVELHINHA
A Parábola da ovelhinha divina, engendrada pelo meigo Poeta correra como relâmpago.
O Santo expusera o mito da ovelhinha divina, comparando-a à mansidão de Nosso Senhor.
Certo dia jornadeavam pelo monte e Francisco levava um companheiro.
Tiveram de parar porque, um grande rebanho de cabras atravessava o caminho.
Notou Francisco uma ovelhinha branca, perdida entre as velhas rezes do insolente rebanho.

Francisco que notara que a ovelhinha amiudava o passo para acompanhar as velhas rezes, disse para o companheiro:
«- Irmão. Vês esta ovelhinha tão mansa, como vai tão triste no meio desses fariseus! Vê se a podes livrar de tão má companhia.»
Mas o Irmão não sabia como a retirar do rebanho e o pastor queria por ela uma paga que eles não podiam possuíam.
Apareceu então por ali um cavalheiro que ao aperceber-se da situação comprou a ovelhinha e deu-a a Francisco que a tomara para tema das pregações daquele dia.
Na cidade contou ao bispo o que se passara e como achava viva a doçura e a humildade de Jesus, e como a ovelhinha andava sozinha e envergonhada, entre cabras e bodes, sem que lhe ouvissem um queixume.
Para Francisco o sermão da ovelhinha era comparável à divina mansidão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando o “Bom Pastor”, saía com o Seu rebanho, procurava uma fonte de água limpa e uma sombra fresca onde as ovelhinhas pudessem recuperar do cansaço.
Jesus sentava-se e o rebanho deitava-se à sua volta.
Jesus tão perto ficava das ovelhas que assumia o cheiro do rebanho.
Depois com o rebanho descansado Jesus falava-lhes; E as ovelhas porque o conheciam pelo cheiro…
E ouviam-no.

IX – Gente Humilde da Porciúncula
Frei Masseu, um dos primeiros companheiros de Francisco, perguntou-lhe certa vez:
«- Porque a ti? Porque a ti? Porque a ti?»
«- Não te entendo! Não percebo o que queres dizer!»
Respondeu Francisco e Frei Masseu explicou:
«- De onde vem que tudo ande a trás de ti. Todos querem ver-te, ouvir-te e te querem obedecer.
Francisco respondeu:
«- Queres saber? Porque a mim, Porque a mim?»
«- Vem daqueles olhos… daquele Deus altíssimo que por toda a parte contempla os bons e os maus.
E como esses olhos não descobriram entre os pecadores nenhum mais vil, nem mais ignorante nem mais pecador que eu; e como para levar diante da obra maravilhosa que intentava; o Senhor não encontrando sobre a terra mais vil criatura, para confundir a nobreza, a grandeza, a força e a formosura, escolheu-me a mim! Para que se saiba que toda a virtude, todo o bem, são d´Ele e ninguém se pode gloriar em sua presença. Mas se alguém se gloriar, glorie-se no Senhor a quem pertence toda a honra e glória por toda a eternidade.»
«- Francisco era apenas um vilão, o filho de Pedro Brandão.»


A GRANDE RESPOSTA!
«- Queres saber porque a mim; Porque a mim; Porque a mim?
Isto vem daqueles olhos do altíssimo que me inundaram com sua luz e graça para que se saiba que toda a beleza vem Dele e só Dele!
A beleza dos olhos de Deus batia em cheio nos olhos de Francisco, que era uma alma cheia de Deus.
«- Verdadeiro frade menor será aquele que tiver as virtudes destes santos frades: a fé; o amor à pobreza; a simplicidade e a pureza.»


X - PRECE DE SÃO FRANCISCO



PRECE DE SÃO FRANCISCO


Ó SENHOR
Faz de mim instrumento da Tua Paz,
Onde haja ódio, que eu leve o Amor,
Onde haja ofensa que eu leve o Perdão,
Onde haja discórdia que eu leve a União,
Onde há dúvidas que eu leve a Fé,
Onde há erros que eu leve a Verdade,
Onde há desespero, que eu leve a Esperança,
Onde há tristeza, que eu leve a Alegria,
Onde há trevas que eu leve a Luz,
Ò Mestre! Faz que eu procure menos:
Ser consolado, que consolar,
Ser compreendido, que compreender,
Ser amado, que amar…
Porquanto: É dando, que se recebe,
É perdoando, que se é perdoado,
É morrendo, que se vive para a Vida Eterna.


São Francisco


São Francisco era um poeta e, durante toda a vida fez excelente uso dessa Arte prodigiosa para honrar e servir o Senhor!
A PRECE DE SÃO FRANCISCO é um poema maravilhoso, que junta á sua poética a grande capacidade e espontaneidade que possuía como evangelizador.


A grande beleza deste poema faz com que seja universalmente conhecido e admirado.



XI - O PRESÉPIO
Francisco pensava há muito tempo em fazer um Presépio pelo Natal.
Seria um presépio vivo, natural, que transmitisse a quem o visse, ou assistisse à Missa, a sensação de pobreza e total carência de meios em que o nascimento em Belém, do Menino Deus, Nosso Redentor, se verificou.

Começaria por escolher um “cenário natural”, agreste… lá pelo monte! Pensou que alguém traria uma manjedoura, a vaca e a jumentinha. Um pouco de feno para os animais e um pouco de palha para criar um cenário e ambiente de curral.
O monte em Gréccio foi logo escolhido pela beleza da penedia que lhe parecia recrear o ambiente de avassaladora grandeza e de desconforto como àquele que Jesus sofrera ao nascer em Belém.

Em Grécio morava um homem, o João Velita, cavalheiro muito virtuoso e muito amigo de S. Francisco; certamente que apreciaria organizar este “Presépio Vivo”.
Um dia S. Francisco encontrou-o casualmente, e falou-lhe.
« - Olha João! Este ano muito queria celebrar o Natal do Menino Deus!
Queria representa-lo de maneira que o Povo visse o desconforto do curral onde Jesus nascera, naquela gelada noite de Dezembro.
- O Povo veria o divino Jesus deitado sobre o feno da manjedoura, bafejado pelo boi e por uma jumentinha. Haverá por lá carneiros branquinhos.
- Escolheriam um Casal amigo com um filhinho de tenra idade para figurar de Sagrada Família.
- Fazia-se lá um altar e celebraríamos lá a Missa da noite de Natal.

O homem logo se mostrou encantado com a Missão e, no seu entusiasmo, começou a tomar todas as previdências para que tudo decorresse como São Francisco pensara.
Podia ser tudo preparado junto ao recôncavo dos rochedos do monte de Gréccio, que ficam próximo dos campos de Riéti.
Tudo se arranjaria e tudo resultaria pelo melhor.

Era noite de Natal e, o Povo de Gréccio surgia por todos os carreiros que levavam à penedia. À hora da Missa o Povo, indiferente ao frio e à chuva compareceu.
Á Missa Francisco de dalmática ministrou como acólito e leu o Evangelho com voz cheia de ternura. Abrasado de amor enterneceu-se e a sua ternura transmitiu-se aos fiéis.

A Santa Missa comemorou com grande emoção o nascimento de Jesus… O Menino de Belém!

XII - OS “MENDRUGOS DE PÃO”
São Francisco despede-se de seus homens que dois a dois ou em pequenos grupos, envia para muitos dos longínquos campos de pregação da Ordem.
Resta-lhe Frei Masseu e com ele, marcha para França.
Francisco simpatizava com os franceses!
Entraram os dois numa cidade e a fome meteu-os a pedir esmola. Francisco seguiu por uma rua e, pequeno e mal arranjado como era só lhe deram “mendrugos de pão”. Pão duro e pouco. Frei Masseu, gentil e bela presença, foi por outra rua e recebeu bons bocados e até pães inteiros.
No fim sentaram-se perto de uma fonte onde uma pedra lhes servia de mesa ao pão esmolado e o Santo disse:
« - Ó Frei Masseu não somos dignos de tesouro tamanho!
Masseu espantado e mirando o resultado do peditório, disse por fim:
« - Por amor de Deus padre! Nem toalha, nem pratos, nem nada!
- Só estes “mendrugos de pão”?»

E Soão Francisco explicara:
Porque aqui nada há de aparelhado pela indústria humana.
- A Divina Providência encarregou-se de tudo nos dar: Este pão mendigado; esta pedra para servir de mesa; a puríssima e fresca água da fonte e… esta Paz e tranquilidade!
- Não será isto – nobre tesouro da Santa Pobreza – tudo digno de ser amado por todo o nobre coração?»

XIII – Epílogo
Dia de Domingo, 4 de Outubro de 1226, logo de manhã, o préstito fúnebre sobe de Santa Maria dos Anjos para a cidade de Assis. Amortalhado no burel.
Olhos fechados lá vai levado pelos frades, entre círios e nuvens de incenso.
A salmodia e os cânticos litúrgicos prendem-se em soluços e lágrimas de saudade. Vai ali o Pai que os filhos levam o pai à sepultura…
O cortejo corta para São Damião. O Poverello tinha prometido uma visita de despedida a madona Sorella Clara! …
O esquife entra na capelinha.
Foi a última visita “aos olhos grandes da imagem de Cristo” da Cruz bizantina de São Damião.
2014-05-30




Com base na Enciclopédia Port/Brasileira. «Francisco, Pagª, 777»


Os estígmas de São Francisco


Depois de ter estado quarenta dias no Monte Alverne, dois anos antes da morte, Francisco teve uma visão:
Sabatier conta assim:
« Um dia ao amanhecer o Santo viu um Anjo que o sobrevoava, inundando-o de uma delícia indizível.
Quando o serafim desapareceu, às delícias seguiram-se dores agudas.
Perturbado; quando procurava a razão de ser daquilo que lhe acontecia notou no seu corpo os estigmas do Crucificado. Estigmas que não eram como chagas abertas mas, excrescências carnudas em forma e da cor de cabeças de pregos.
Francisco esgotado teve de ser trazido para Assis.
Se bem que estivesse quase, completamente cego, continuou a trabalhar com alegria. Os últimos tempos de vida passou-os no meio de grandes sofrimentos.
Faleceu na Porciúncula em 3/x/1226 e foi canonizado dois anos depois.