quarta-feira, 22 de outubro de 2014

OS IMPÉRIOS DO DIVINO ESPÍRITO SANTO


NOS AÇORES

A necessidade de criar “Os Impérios do Divino Espírito Santo” nos Açores surgiu depois que ocorreu ali um terramoto de grande intensidade, causando grande número de vítimas, destruindo património e assustando atrozmente a população.
Havia ainda poucos anos que as ilhas tinham sido povoadas e a população não conhecia estas particularidades ambientais.

Os Impérios do Divino Espírito Santo são associações que, em caso de calamidade, prestam socorros urgentes à população, cuidando dos mais carecidos e constituídos em necessidade.
Os Impérios, já eram conhecidos pelo Alentejo: Portalegre, Marvão, Nisa. E no Século XVI já eram referenciados em Alenquer.
Estas associações de há muito seriam conhecidas pelos Açores, embora não tivesse havido ocasião para realizações práticas.
Depois que em 1.522 um novo e grave acidente lançou os Açores na senda dos Impérios.
Os açorianos tem sofrido com frequência calamidades de várias origens como vulcanismo; temporais quer em terra, quer pela fúria do mar.


Há temporais com descargas de água que provocam enxurradas, derrocadas e deslocação de terras ou que levam à sua frente tudo quanto se opõe.
Foi o caso de Ribeira Quente em 30/10/1998, quando à Ribeira foram parar as águas de pequenos riachos subsidiários que carrearam terras movediças, troncos e pedregulhos em quantidade.
Antes de entrar no mar, a Ribeira encontrou pela frente uma escola e a aldeia de pescadores e tudo foi levado. Escaparam apenas algumas casas afastadas.
Houve «vinte e nove vítimas mortais», grande número de feridos nas casas e outros prejuízos materiais.
Dessa vez Os Impérios do Divino Espírito Santo deram provas e os bons resultados da experiência açoriana levou a que os Impérios se estendessem mais cedo ao Brasil, aos Estados Unidos ao Canadá.
Cada Império ocupa sua área definida; Seja freguesia, lugar ou simples rua.
Os Irmãos fazem uma cotização anual para o “cofre do império”. Além das cotizações o “Imperador” promove festividades para angariação de valores e para fidelização dos associados, procura amealhar, para distribuir, por todos os recursos possíveis.
Nos Impérios o Sagrado impõe-se! E a intenção pensada e face à calamidade, transforma-se em “lei” e a realização de Lei pode impor-se pela dor alheia patente aos olhos. O “Projecto” derrama em sacrifícios por todos participado; passando pelo voluntariado pode ir até ao esforço pessoal e ao sacrifício abnegado.
O Império «oferece um chefe ponderado e escolhido por todos»; um elemento precioso e que dispõe de autoridade e de um pecúlio, que é de todos e que pode usar nos primeiros socorros.

O conhecimento vivido destas situações críticas faz com que as Festas do Divino Espírito Santo se revistam de atenções muito peculiares nos dos Açores disseminando-se, com a diáspora açoreana por todo o mundo.
Só na Ilha de São Miguel há mais de trinta Impérios.

O tempo litúrgico do Divino Espírito Santo tem início no Domingo de Pascoela e termina no dia da SS.ma Trindade. Nos Açores “as festas dos Impérios”, freguesia, após freguesia, continuam por todo o Verão.

As festividades dos Impérios possuem actividades, rituais próprios e dias reservados. Alguns Impérios promovem arraiais e diversões variadas como os famosos “touros à corda”.


Uma parte importante da actividade dos Império é a distribuição de alimentos aos associados no dia da festa do Império da Terra. Distribuição de “carne da alcatra” em espécie ou cozinhada e distribuída num imenso banquete ao ar livre a todos os Irmãos.

Visitei um Império que distribuía a carne de meia dúzia de “vacas” que comprava e mandava abater expressamente para oferecer aos Irmãos. A sede do Império dispunha de instalações de açougue espaçosas, funcionais e higiénicas para desmanchar as carcaças. São instalações construídas, à semelhança, sem tirar nem por, dos nossos talhos.
Nas instalações há, por vezes uma cozinha com grande lareira e panelões para cozinhar a alcatra. A um lado da cozinha fica a masseira, o forno e a mesa onde batem o célebre “pão sovado” - semelhante às fogaças da Vila da Feira - que cozem num enorme forno para distribuir à refeição. Outros impérios entregam no sábado anterior as vitualhas para que os Irmãos as levem e preparem em casa.

O modo como organizam os Impérios é sábio, pois procuram servir-se de tudo quanto enriqueça a festa onde as manifestações religiosas completam as profanas. 


Se as generalidades são quase comuns a todos os Impérios, há autonomia absoluta em questão de pormenores, na prática divergem ao gosto do Império ou de conveniências próprias.

Os Impérios são instituições autónomas e de utilidade para quem esteja carecido vocacionadas para casos de calamidade.
Foram criados com a intenção de “abrir o Império” a todos quantos tenham necessidade de seus préstimos na calamidade, sem olhar se são ou não Irmãos; independentemente do Credo, da cor, da origem, ou qualquer outro impedimento.

Os Impérios dos Açores são a maravilha da vida comunitária que, nestes tempos de egoísmo, em que vivemos mostra que o Espírito de caridade, ainda vive e está para durar..


m.c. santos leite

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